21/11/2012, Ding  Gang, Global Times, Pequim
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  Ding Gang é editor-chefe de People's  Daily. Escreve de Bangkok. 
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  Os presidentes dos EUA não sabem falar com modéstia sobre a democracia dos EUA,  nem são capazes de ver que é processo específico dos EUA. O presidente Barack  Obama não traz qualquer novidade a essa constatação geral. 
  
  Em sua mais recente viagem à Tailândia, Obama voltou a dizer, da democracia dos  EUA, que "Funcionou para nós por mais de 200 anos, e acho que funcionará para a  Tailândia e funcionará para toda essa região. E a alternativa, penso eu, é uma  falsa esperança; com o tempo, entrará em erosão e colapso, sob o peso de povos  cujas aspirações não estão sendo atendidas." 
  
  Mas a verdade é que não há remédios mágicos. A declaração de Obama soou como a  declaração antiterrorismo do presidente George W. Bush, há uma década, para o  qual seria "conosco ou contra nós". 
  
  Apesar de a democracia dos EUA ser apresentada como único remédio possível para  todos os problemas de reformas e desenvolvimento, e como linha que divide o  mundo, o valor da democracia dos EUA é, de fato, muito reduzido.
  
  O que países do sudeste asiático, como Tailândia e Myanmar, mais precisam nesse  momento não é, de modo algum, decidir se adotam a democracia, ou outra via. O  que mais precisam é encontrar uma via que melhor sirva à atual situação  nacional, e construir um "contrato social" com o qual todos os grupos étnicos e  sociais concordem e que aceitem. Esse, fundamentalmente, é problema de sistema  e cultura, não é problema eleitoral. 
  
  Durante o ano passado, visitei oito países do sudeste asiático, todos eles com  problemas de integração étnica. A questão principal é a integração dos  muçulmanos com budistas e outros grupos étnicos. Até aqui, não vi um único país  da Associação dos Países do Sudeste Asiático [orig. ASEAN countries] que tenha, de modo adequado e amplo, resolvido  esse problema.
  
  Todos esses países praticam sistemas multipartidários e sistemas eleitorais de "uma  pessoa, um voto". Myanmar está atrasado nesse processo, e o Parlamento ali  ainda é controlado pelos militares, mas, afinal, o partido da oposição liderado  por Aung San Suu Kyi chegou ao Congresso.
  
  Mas conseguir que os budistas aceitem com tolerância o povo Rohingya e permitam  que os Rohingyas participem na vida democrática em Myanmar não é problema que  possa ser resolvido em eleições.
  
  O único resultado que advirá de imporem-se eleições democráticas em país dividido  em grupos étnicos é o de sempre: um dos grupos étnicos, que tenha maior  população, chegará ao poder – e isso só fará exacerbarem-se as tensões e as divisões  étnicas. 
  
  E há também outras lições a aprender no sudeste asiático. 
  
  Com vistas a seduzir eleitores, alguns instigam propositadamente os conflitos  entre diferentes níveis sociais e grupos étnicos e até substituem a lei civil  por regras religiosas, para bloquear outros grupos étnicos.
  
  Os EUA é país de imigrantes, com os cristãos hoje como grupo social majoritário.  Seus valores básicos e seu sistema político foram estabelecidos sobre a base da  civilização europeia. Como o lema impresso no brasão dos EUA diz, "E pluribus  unum" – que significa, literalmente, "De todos, [faz-se] um." 
  
  Temos de ter extremo cuidado na aplicação do modelo dos EUA ao Oriente,  sobretudo no sudeste da Ásia, para onde convergem as duas maiores religiões do  mundo, o Islã e o Budismo. 
  
  Há um sentido de urgência, na ênfase que Obama dá aos efeitos da democracia dos  EUA. O poder de influência dos EUA já declinou tanto, que o presidente dá  sinais de nervosismo.
  
  Até as pessoas mais simples sabem ver o que se passa. A Associated Press, em matéria  recente, noticiou que "Obama, sem sapatos, andando de meias por um templo no  coração de Bangkok, recebeu de um monge votos de boa-sorte, na difícil  negociação para reduzir o déficit que o espera em Washington."
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