Gonzaga: de pai para filho


Um dedo aperta a tecla de um gravador antigo. O filho entrevista o pai. Há entre ambos uma tensão crescente. E os personagens dessa história são apresentados numa linha do tempo que vai de 1920 a 1980.

O pai, Luiz Gonzaga (1912-1989), de chapéu de couro e gibão, toca sua sanfona e canta para o povo dançar na praça. O filho, Gonzaguinha (1945-1991), é rodeado pela imprensa antes de subir ao palco:
“- Por que você não grava uma música do seu pai?”

Seu rosto severo e contraído mostra a carga de emoção que essa pergunta levantou nele, que está na capa de Veja, onde se lê “Explode Coração”.
O filho lembra-se do pai dizendo:
“- Esse menino vai ter estudo. Quero ver anel de doutor no dedo.” E o internato é recordado com revolta.

No camarim, uma visita inesperada. É Elena, sua madrasta:
“- Seu pai precisa muito de você.”
“- Não vai dar”, responde o filho zangado.

Mas seus atos desmentem essa fala. Um carro adentra o sertão. Seu destino é Exu, terra onde nasceu Luiz Gonzaga. É o filho indo em direção ao pai, onde se enraíza sua identidade, que ele precisa buscar.
“- Faz muito tempo que eu não vejo meu pai... A verdade é que ele e eu nunca nos entendemos... Quem era meu pai?”

E o filme de Breno Silveira, que escreveu o roteiro com Patrícia Andrade, responde à pergunta, contando a história de um dos maiores músicos populares brasileiros, conhecido como “O Rei do Baião”, que gravou 200 discos, que venderam 30 milhões de cópias. Foi o compositor da música de “Asa Branca”, hino do Nordeste.

A escolha dos atores foi feliz. Assim, Gonzagão é interpretado por Land Vieira, o garoto que se apaixona pela filha do coronel (Cecilia Dassi), por Chambinho do Acordeon que faz Luiz Gonzaga no auge e Adélio Lima que o vive quando mais velho, distante do homem temperamental que fora no passado.

Júlio Andrade é impressionante como Gonzaguinha e Nanda Costa está linda como a mãe dele. Silvia Buarque, uma atriz delicada é a madrinha Dina que o criou com Xavier, o padrinho, amigo de Gonzagão (Luciano Quirino) no Morro de São Carlos, Rio de Janeiro.

A fotografia lírica de Adrian Teijido acrescenta beleza a tudo e as fotos de época e os trechos documentais filmados casam-se bem com o desenrolar da história. As músicas escolhidas realçam o tom de emoção de cada cena.

“Gonzaga – De Pai para Filho” dá saudades de tempos passados, de um Brasil mais ingênuo. E o reencontro de pai e filho, que sempre se amaram pelo avesso, faz chorar.

Quando estiverem saindo do cinema, fiquem um pouco mais e escutem Gilberto Gil, que escreveu a canção tema dessa bela homenagem que Breno Silveira faz a Luiz Gonzaga, na celebração dos 100 anos de seu nascimento.

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