Operação Assepsia: Médico suspeito de desvio negociou com governadora

O ex-secretário de saúde do estado, Domício Arruda, fato já mais que referido no âmbito da Operação Assepsia, prestou um depoimento bastante explicativo ao Ministério Público no fim de julho.
Ali, além de responsabilizar a governadora Rosalba Ciarlini e o procurador geral do estado Miguel Josino, ele demonstrou as circunstâncias das negociações havidas com o grupo de Daniel Gomes, da Toesa, para administrar unidades hospitalares no RN.
Falei sobre isso mais de uma vez.
Arruda contou que com o agravamento da crise no Hospital Walfredo Gurgel, manteve contato com a Cruz Vermelha, através do representante Edmont Silva, que já tinha uma experiência de gestão de unidades hospitalares na Paraíba. Domício Arruda foi, então, visitar o hospital administrado pela Cruz Vermelha em João Pessoa.Foi realizada, após isso, uma reunião na governadoria para tratar sobre uma solução para administrar o Walfredo Gurgel. Da reunião, participaram Edmont Silva e Daniel Gomes (o dono da Toesa e ligado ao ITCI, que se apresentou como consultor também da Cruz Vermelha), além do então secretário, sua adjunta e a governadora Rosalba Ciarlini. O encontro discutiu o modelo de terceirização, que já havia sido implantado em João Pessoa, e que dependia, como sempre nesses casos, da decretação do estado de emergência e da aprovação de uma lei estadual sobre as Organizações Sociais.
Participa da reunião Edmont Silva, representante da Cruz Vermelha na Paraíba.
Quem é Edmon (não Edmont, como estava registrado na consignação do depoimento de Arruda e que, por isso, veio parar no texto do blog)?

Edmon Gomes da Silva Filho é ginecologista e obstreta de Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense.
Edmon comandou a Unimed-Caxias e chegou a ser responsabilizado pela liquidação do plano, conforme publicado aqui, após seu grupo ter assumido o controle acionário de um hospital do município (Cofetil):
Em 2009, o controle acionário da Cotefil foi assumido pelo grupo liderado pelo Dr. Edmon Gomes da Silva Filho, ginecologista e obstetra, que administrava a Unimed-Caxias, transação apontada como ponto de partida para a derrocada daquela cooperatia de serviços médicos, liquidada pela Agencia Nacional de Saúde Complementar em 2010, deixando um rombo em torno de R$ 40 milhões com fornecedores, prestadores de serviço e até com os médicos cooperados. O fechamento da Unimed-Caxias representou o desemprego de cerca de 250 médicos, sem contar o pessoal médico de apoio e administrativo, bem como deixou sem assistência médico-hospitalar cerca de 17 mil famílias, o que representa cerca de 50 mil segurados, que tinham o plano de saúde vendido pela Unimed/Caxias.
Edmon teve os bens bloqueados devido a suspeita de desvio de recursos ocorrida na Unimed.
Mesmo a gestão da Cruz Vermelha no Hospital de Trauma da Paraíba foi objeto de "estranhamento", nas palavras de um texto do Jornal do Brasil, que relatou uma audiência no Senado que tratou do assunto em 22 de setembro do ano passado:
O envolvimento da Cruz Vermelha Brasileira em denúncias de irregularidades atribuídas à gestão do Hospital do Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa (PB), surpreendeu aos senadores presentes à audiência pública realizada nesta quinta-feira (22), pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS).
Os senadores Cyro Miranda (PSDB-GO) e Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB) foram os primeiros a manifestar esse estranhamento, já que a entidade atua em 186 países e funciona desde 1908 no Brasil.
- Essa terceirização dos serviços de saúde caminha para a perda de objeto da função do Estado. Na Paraíba, até o Programa de Saúde da Família (PSF) está sendo privatizado - comentou Vital do Rêgo Filho, que vai encaminhar requerimento de informações ao Ministério da Saúde para comprovar a legalidade desse tipo de contrato na saúde pública.
Autor do requerimento de debate, o senador Cícero Lucena (PSDB-PB), mostrou-se preocupado com a terceirização de atividades fins do Estado, o que poderia dar margem a contratações por via política, como observou. E comentou ainda que o gestor do Hospital do Trauma da Paraíba, o ginecologista Edmon Gomes da Silva Filho, vinculado à Cruz Vermelha Brasileira, teve bens bloqueados em ação judicial por supostos desvios praticados na Unimed no Rio de Janeiro.
Por fim, o senador Wilson Santiago (PMDB-PB) lamentou a ausência do secretário de saúde da Paraíba, Waldison Dias de Souza, para responder às acusações feitas ao gerenciamento do Hospital do Trauma da Paraíba. O governo da Paraíba não enviou outro representante para esclarecer essas denúncias.
Quem buscou suprir essa lacuna foi o assessor de planejamento da Cruz Vermelha Brasileira, Vitor Tadeu Ferreira. Ele disse que o médico Edmon Gomes da Silva Filho tem reputação ilibada e informou que a contratação dos seus serviços para gerir o Hospital do Trauma da Paraíba - prevista para durar seis meses - teria gerado uma economia mensal de R$ 3,8 milhões aos cofres públicos.
A seção da Cruz Vermelha na administração do Hospital de Trauma da Paraíba é do Rio Grande do Sul.  Seu representante, de Duque de Caxias, cidade onde a Marca detém contratos importantes.  Diante de Rosalba, Edmon se fez acompanhar de Daniel Gomes, dono da Toesa, e cuja ligação com a organização de Tufi Meres já está mais que evidente.
Como pode um ginecologista fluminense representar uma instituição gaúcha em estados do Nordeste?
O blog de Clilson Júnior, na Paraíba, trazia mais informações para entendermos o quadro, em julho de 2011:

Quem primeiro levantou a questão de ordem no debate sobre o currículo ou folha corrida do novo administrador do Hospital de Trauma da Cruz Vermelha ou a Cruz Vermelha do Hospital de Trauma ou ainda a cruz que carrega o consultor, ginecologista e obstetra Edmon Gomes da Silva Filho, foi Rubens Nóbrega.
Edmon
Mas é bem comum neste governo não fornecer explicação alguma sobre figuras que têm relações perigosas com o coletivo girassol. Primeiro foi o "Barão da Merenda", um nobre empresário da SP Alimentação, que foi preso, o empresário Eloízo Gomes Afonso Durães, e que manteve por dois anos a empresa maquinando na Prefeitura de João Pessoa.
Voltando a cruz que Ricardo carrega, o doutor Edmon Gomes da Silva Filho deu entrevista e pousou de autoridade sobre a nova administração do Hospital de Trauma. Gostaria que o governo fosse mais cético nas pesquisas, principalmente sobre a conduta de certas pessoas. Diz o ditado que para ser a mulher de César "não basta ser honesta, tem de parecer honesta". Esta frase deveria ser seguida a risca neste governo desastrado. As pessoas contratadas têm que ser honestas e parecerem honestas. Mesmo sabendo que a expressão acima surgiu após um escândalo em Roma. Pompéia, mulher de César, tinha um nobre admirador, chamado Clódio. Para conseguir chegar até ela, Clódio se disfarçou de mulher e entrou no Santuário, só que o Palácio era muito grande e o jovem acabou se perdendo pelos corredores. Foi descoberto através da voz e a partir daí começou a balbúrdia.
A tal balburdia paraibanesca sobre nosso Edmom, novo administrador do Trauma, foi publicado no Diário da Justiça da Paraíba, no dia 22 de setembro de 2010. Neste dia, houve a decretação de indisponibilidade de bens do doutor.
Edmon

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