7ª DP: Retrato do caos

Por Ivênio Hermes
“Quem omite, esconde ou modifica a verdade hoje, poderá tornar-se um assassino da história futura e um genocida da liberdade de expressão.” Esha Nehir
A pesquisa sobre segurança pública vai além dos livros, monografias, artigos e material online porque requer uma verdadeira imersão no problema para evitar se tornar apenas um observador contemplativo. É uma área de estudo das ciências sociais que precisa de um olhar interno, uma visão de dentro do problema e uma experiência de troca de informações que não estão cristalinas nos compêndios disponíveis.

O Rio Grande do Norte sofre mais ainda com a falta de publicação legítima e sem compromisso com a imprensa tendenciosa que vê o problema, contudo, se nega a mostrar a verdade ou adultera para benefício de vendas e acordos subservientes.

Nesse campo de risco, poucos se envolvem e falam a verdade como os jornalistas Cézar Alves de Lima e Daniel Dantas Lemos, que além de militarem nessas e noutras causas, ainda incentivam republicando e divulgando meus textos sobre esse assunto polêmico que polui as páginas e vende jornais.

São esses jornais que ficam publicando atualmente que faltam policiais aqui e ali, que não há estrutura nessa ou naquela instituição, informações repetidas revestidas de uma “falsa novidade” que arrebata o leitor desavisado e habituado ao jornalismo de fanfarra, sem artigos ou matérias com pesquisas que realmente apontem causadores, causas e soluções para os problemas potiguares.

A verdadeira imprensa não é como um grupo de jornalistas que visitou a 7ª Delegacia de Polícia Civil há meses, inclusive com um repórter se machucando nos escombros que aquele ambiente se tornou e nunca nada foi divulgado.

Mas imbuído pela pesquisa honesta, a equipe do Blog do Ivenio Hermes/Carta Potiguar, resolveu mostrar a realidade do caos da segurança pública, que muitos preferem manter a estratégia de continuar escondendo o sofrimento alheio.
Desrespeito ao Serviço Público

Em 18 de dezembro de 2012, nossa equipe visitou a 7ª DP e fizemos um levantamento fotográfico e conversamos com os policiais que estavam ali de plantão, que se sentiam constrangidos de mostrar aquele quadro de humilhação pelo qual passam.

Eles não possuem computador para atendimento ao público dentro de um Bairro que sedia dezenas ocorrências de crimes diversos, Quintas. Seu serviço telefônico está cortado e a viatura que serve à delegacia se encontra estacionada fora de serviço na frente da delegacia. Essa situação além de deixar o serviço público completamente inoperante, evita que seja feita a coleta de informações reais e necessárias para que a SENASP, Secretaria Nacional de Segurança Pública e o FBSP, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, possam realizar estudos que demostrem o quadro real da segurança potiguar.

Essa omissão de informações também prejudica estudos para a viabilização de incentivos financeiros oriundos do governo federal, que não tem como saber se há ou não necessidade de investimento no Rio Grande do Norte.

O serviço público continua sendo rebaixado e a Polícia Civil desqualificada para cumprir seu dever de ofício quando é designado para uma delegacia como a 7ªDP, apenas 01 delegado, 02 agentes e 01 escrivão que atualmente acumula outra delegacia na zona norte, cujo escrivão está de licença médica.

Apesar de terem recebido coletes balísticos Kevlar com proteção IIIA, não foi levado em consideração o tamanho dos policiais e somente foram fornecidos 4 unidades de tamanhos M e P, que em todos os policiais da DP, ficaram curtos ou sem fechamento lateral, deixando de serem totalmente úteis.

Não falarei de outros artigos como munição, armas e sistema de rádio para não submeter mais ainda ao opróbrio aqueles homens que ali trabalham (como se isso fosse possível).
Estrutura Física em Ruínas

A 7ªDP está localizada num prédio que merece a visita de engenheiros de segurança, OAB, CREA, membros dos direitos humanos, bombeiros e qualquer entidade que vise à segurança do trabalhador.

Há dezenas de sinais de deterioração estrutural, com as ferragens das lajes, dos pilares e das vigas expostas e avançado grau de oxidação, que deixam a desejar a integridade física do prédio.

Além disso, infiltrações permanentes oriundas de vazamentos de canos de águas potáveis e de esgoto, ajudam a piorar o estado da estrutura.

A fossa que fica nos fundos do prédio está com a laje comprometida e andar sobre ela é um risco, sem condições de receber qualquer sobrepeso. Os buracos nos canos e na fossa facilitaram a proliferação de uma praga antiga conhecida no Rio Grande do Norte como: gabirus.

São ratazanas enormes que segundo os agentes diz uma lenda policial, que quando ali funcionava também uma Central de Detenção Provisória, os presos se revezavam para fazer a segurança dos outros que corriam o risco de serem literalmente “roídos” pelos animais. Lenda ou não, o relato se torna bastante verosímil quando se observa o cuidado que escrivão adota para evitar que seu cartório seja invadido e destruído pela praga.

Diante de tantos e potenciais estragos, a qualidade de vida do trabalhador policial está desmoronando junto com a edificação.

Eles têm um local úmido e quente, rebaixado no chão num desnível maior que um metro, sem ventilação, com um condicionador de ar sem condições. Seus armários estão velhos e sucateados, sem segurança e sua cozinha é munida de um fogão velho doado pela comunidade local que não é da renda alta, mas se penalizou com a situação da DP.

Do teto da delegacia, observamos que as telhas, ou melhor, cacos de telhas, estão soltas e a laje de cobertura exposta. As antenas de rádio estão muito abaixo das construções vizinhas e se houvesse rádio, elas não dariam uma recepção adequada. Sobre a caixa d’água nem é preciso mencionar que há muito tempo que não recebe qualquer manutenção.
O Levantamento Fotográfico

Não há como esconder a realidade sob a pena de tentar aviltar a história futura. Portanto, disponibilizamos o levantamento fotográfico que fundamenta parte desse artigo através do álbum “7ª DP Retratos do Caos na Segurança Pública”¹.

São 62 fotografias feitas pelos membros do Blog do Ivenio Hermes/Carta Potiguar e mais alguns colaboradores que preferimos manter no anonimato por razões óbvias.

Além dos problemas citados, outros poderão ser constatados no levantamento, como:
Vegetação brotando das paredes erodidas;
Instalações elétricas e tomadas desprotegidas;
Marcas de erosão interna;
Afundamento do prédio no chão provocando rachaduras no piso, paredes e teto;
Acesso indevido facilitado e vulnerabilidade pela parte de trás da DP.

A crueldade retratada nas imagens pode não estar aparente para aqueles que não se importam com a segurança pública e nem tampouco com a dignidade do servidor policial. Também não está aparente para aqueles que inovam a verdade em detrimento da realidade daqueles que precisam e demandam um serviço de segurança pública bem feito, serviço esse que o Estado do Rio Grande do Norte alega estar prestando com eficiência e ainda promovendo melhorias.

Se há alguma intenção em entender o que se passa na segurança pública potiguar, fique atento, pois esse é apenas o primeiro de uma série de artigos com levantamentos fotográficos que já foram realizados, portanto não adianta mais tentar esconder, nosso arquivo já está montado.

Até o próximo, afinal, “Vincit omnia veritas”.

Referências

¹HERMES, Ivenio. 7ª DP Retratos do Caos na Segurança Pública: Levantamento Fotográfico. Fanpage do Blog do Ivenio Hermes e Carta Potiguar. Disponível em: < http://migre.me/cvWXM >. Publicado em: 23 dez. 2012.

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