"Apagão científico": E o contorcionismo de Herton Escobar continua

Em seu blog no Estadão, o repórter de ciências Herton Escobar respondeu a peguntas encaminhadas por Roberto Takata, do Gene Repórter.
Herton continua com dificuldades de explicar como ele e o jornal puderam afirmar que o IINN-ELS enfrenta um "apagão científico".
Takata perguntou por que Escobar afirmou isso em dois textos.  Veja parte da sua resposta abaixo:
Sim; sou repórter de ciência do Estadão há 13 anos e conheço muito bem os prazos e as etapas envolvidas no processo de publicação científica. Como já escrevi neste blog, não há dúvida de que o IINN-ELS estava produzindo ciência de qualidade até antes do “racha”, em agosto de 2011, que é o que mostra a lista de trabalhos divulgada pelo Prof. Nicolelis em resposta à reportagem. O chamado “apagão” refere-se especificamente ao período pós-racha (quando todos os pesquisadores que essencialmente produziam a ciência do instituto foram embora), e não diz respeito apenas à publicação de papers, mas ao esvaziamento quase que total do capital humano do IINN-ELS, considerando que o instituto teve sua equipe de pesquisa reduzida a seis pessoas, com um índice H muito abaixo do que o próprio Prof. Nicolelis diz considerar aceitável, e que, apesar disso, vai receber R$ 33 milhões em dinheiro público para desenvolver um projeto de altíssima complexidade (Andar de Novo) que é questionado cientificamente e eticamente por boa parte da comunidade científica brasileira. Esse é o grande questionamento trazido à luz pela reportagem.
O contraste é feito com as declarações do próprio Prof. Nicolelis, que em agosto de 2011 disse que o racha não teria nenhum impacto sobre a produção científica do IINN-ELS e que a nova equipe científica do instituto seria composta pela “nata da neurociência mundial”, incluindo 31 pesquisadores internacionais. O que não aconteceu, pelo menos por enquanto. Nenhum desses 31 pesquisadores estrangeiros assinou nenhum trabalho com afiliação ao IINN-ELS até agora (até porque nenhum deles trabalha de fato em Natal) e a nova equipe brasileira residente do instituto também não publicou nenhum trabalho inédito desde então ­– enquanto que os pesquisadores que se mudaram para o Instituto do Cérebro da UFRN continuaram a publicar normalmente no mesmo período. Todos os trabalhos listados como produção científica do IINN-ELS pelo Prof. Nicolelis no início desta semana foram, essencialmente, produzidos pelos antigos pesquisadores do instituto antes do racha, como mostrei na minha última reportagem. Isso não significa que a nova equipe do IINN-ELS não virá a publicar bons trabalhos no futuro (como podem indicar os resumos apresentados em congressos); mas fica claro que a produção científica do instituto sofreu um forte revés no último um ano e meio desde o racha. Daí o “apagão”.
Herton diz saber que os prazos entre envio, aceite e publicação de artigos em revistas científicas indexadas leva entre 12 e 20 meses.  Ou seja, ele reconhece que os artigos publicados pelos pesquisadores que foram para o Instituto do Cérebro da UFRN foram resultado de pesquisas realizadas no IINN-ELS antes da ruptura.  No entanto, o repórter reitera que o "chamado “apagão” refere-se especificamente ao período pós-racha (quando todos os pesquisadores que essencialmente produziam a ciência do instituto foram embora), e não diz respeito apenas à publicação de papers, mas ao esvaziamento quase que total do capital humano do IINN-ELS".  Aqui há um problema no argumento de Escobar - que é, justamente, o fato de que não há outra medição da produtividade de um centro de pesquisa, a não ser a publicação de papers em resultado às suas pesquisas.
Pesquisas realizadas atualmente no IINN-ELS, portanto, levarão ainda algum tempo para aparecerem em revistas.  Escobar sabe disso.  No entanto, continua seu contorcionismo com as palavras para justificar a acusação que fizera: "a nova equipe brasileira residente do instituto também não publicou nenhum trabalho inédito desde então ­– enquanto que os pesquisadores que se mudaram para o Instituto do Cérebro da UFRN continuaram a publicar normalmente no mesmo período". Os pesquisadores que saíram publicam hoje pesquisas feitas ainda no tempo em que estavam no IINN-ELS.  A nova equipe ainda não publicou, mas segundo o repórter, isso não significa que "não virá a publicar bons trabalhos no futuro (como podem indicar os resumos apresentados em congressos)".
Quer dizer: o próprio repórter sabe que os trabalhos apresentados em congressos são indicativos da produção do Instituto e das publicações que virão.
Herton Escobar contorciona as palavras: ele sabe que publicações levam tempo e que, portanto, as publicações do IINN-ELS de antes da divisão contam ainda para o Instituto.  Sabe, por isso, que as publicações do grupo que saiu para o ICE nos últimos dezoito meses foram resultado de pesquisas feitas no IINN-ELS.  Sabe, por fim, que o Instituto tem feito pesquisas hoje como provam os resumos apresentados em Congresso - e que essas comunicações devem virar publicações em revistas indexadas em breve.  Ainda assim, como acusou Nicolelis de "apagão científico", Escobar é obrigado a manter a acusação, mesmo que contra todos os argumentos que ele mesmo apresentou.
Ainda que diga que a motivação da matéria não foi política, parece ser o motivo mais plausível.  A política se uniu a razões ainda menos publicáveis por parte da comunidade científica.

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