7/12/2012,  Erik Wemple, Washington Post
  http://www.washingtonpost.com/blogs/erik-wemple/wp/2012/12/07/progressive-journos-hang-with-obama-anything-wrong-with-that/
  Entreouvido na Vila Vudu:
  
  Se há verdade sob o sol no mundo do capital, é que nenhum jornalismo-empresa  jamais foi ou algum dia será promotor da democracia dos muitos, como já ensinaram  Gabriel Tarde e Gramsci. Não é nos EUA, nem é – muito menos –, no Brasil, onde as  empresas-imprensa são as mais burras & broncas & reacionárias &  incompetentes do continente 
  e, ao que parece, da galáxia.
  
  O que aí vai, nesse artigo traduzido, vai  como um alerta: 
  
  – nenhum político do campo progressista, no Brasil, cometa a ESTUPIDEZ de supor  que haveria 'jornalistas progressistas' empregados de empresas-imprensa  udenistas, golpistas e reacionárias, os quais mereceriam tratamento especial.  Não há; se houvesse, já teriam sido demitidos. 
  
  Mas mesmo que haja ainda algum, e enquanto não for demitido, os  OUTROS jornalistas empregados e fascistas sinceros –, encarregar-se-ão de  DETONAR os 'companheiros' pressupostos 'progressistas'. 
  
  Há abundante discurso pronto para ajudar a fazer isso, 
  amparado na ideologia, na má consciência do jornalismo liberal. 
  
  ISSO, precisamente, é o que se vê já feito, nos EUA, hoje, na matéria abaixo. 
  
  Portanto, a palavra-de-ordem tem de ser: em nenhum caso se deve dar entrevista (nem  boa-tarde!) a qualquer dos veículos ou jornalistas do Grupo GAFES  (Globo-Abril-FSP-Estadão-RBSul), 
mesmo que o jornalista seja, pessoalmente  considerado, pressuposto 'democrata' ou pressuposto 'amigo da gente'. 
  
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  Arianna Huffington, do Huffington Post  é, em geral, franca e cooperativa e tem prazer em falar sobre sua empresa e seu  jornalismo.
  
  Quer dizer... Exceto quando ela é convidada para encontro secreto na Casa  Branca, com o presidente Obama. "Foi encontro em off. Não há portanto o que comentar" – respondeu o porta-voz do Huffington Post Rhoades Alderson, ao ser  perguntado se sua chefe podia atender ao telefone.
  
  Ante a negativa, esse blog suplicou, observando que só queria fazer perguntas  de rotina sobre o processo jornalístico no Huffington,  agora que a jornalista-proprietária participava de reuniões em off com o presidente dos EUA". "Entendi,  mas a resposta é a mesma" – disse Alderson.
  
  A mesma resposta pronta. Jornalistas ganham a vida trabalhando a favor da  abertura, da partilha de informações, de falar com funcionários públicos e  informar o grande público. Mas, nesse caso, os 'convidados de Obama' não estão,  exatamente, informando muito. Nesse caso, apesar de jornalistas, nada  informarão ao grande público. 
  
  Praticamente toda a linha de frente do horário nobre da rede MSNBC lá estava,  na Casa Branca – Al Sharpton, Ed Schultz, Rachel Maddow, Lawrence O'Donnell –,  na 3ª-feira à noite. Mas não falam sobre o assunto. Dois nomes da página de  opinião do Washington Post – Jonathan  Capehart e Greg Sargent – sentaram-se àquela mesa. E recusam-se a comentar, com  um bom colega de trabalho, o que lá se passou. Um porta-voz de Josh Marshall de  Talking Points Memo, também suspeito  de ter participado da reunião, respondeu o seguinte: "Foi reunião em off. Josh não comentará." Markos  Moulitsas do afamado Daily Kos, outro  suspeito de ter estado lá, também não fala: "Desculpe, mas não discuto sobre as  pessoas com quem me encontro ou deixo de me encontrar. Obrigado. Markos" –  respondeu esse, por e-mail, ao Erik  Wemple Blog.
  O silêncio que cerca esses "progressistas influentes" – como a Casa Branca os  chama – pode ter aberto um precedente histórico. Talvez seja a primeira vez em que  a Casa Branca reúne-se com jornalistas, e a opinião pública obtém mais  informação da Casa Branca... que dos jornalistas. A Casa Branca, pelo menos,  distribuiu a seguinte nota:
  "Essa tarde, na Casa Branca, o presidente encontrou-se com jornalistas  progressistas influentes, para conversar sobre a importância de impedir  qualquer aumento de impostos sobre as famílias de classe média, fortalecer  nossa economia e adotar abordagem equilibrada para a redução do déficit."
  Os progressistas influentes de hoje não são, absolutamente, pioneiros. Há  muitos casos de reuniões off-the-record  entre jornalistas e presidentes. Uma delas aconteceu em 2006, plenamente off, entre apresentadores conservadores  de programas de rádio e o presidente George W. Bush. Foi "parte de intensa  campanha do Partido Republicano para arregimentar e reenergizar um exército  crucialmente importante de apoiadores que não davam sinal de estarem tão completamente  'fechados' com a Casa Branca como no passado" – segundo o New York Times.
  
  Karen Tumulty, veterana repórter de política do Washington Post lembra que a Casa Branca de Clinton tinha o hábito  de convocar repórteres para sessões off-the-record  com o presidente, como encontro de apresentação dos que estavam começando a  cobrir a Casa Branca ou uma ou outra viagem internacional. "O presidente reunia  os novos repórteres e discutia longamente com seis, oito deles" – conta Tumulty.  É cena que parece muito mais inocente do que a que se viu na 3ª-feira, e que,  nos termos em que foi apresentada pela própria Casa Branca, mais parece  situação para 'fazer a cabeça' [orig. lobby]  de gente que já dá sinais de pensar como a Casa Branca de Obama, sem qualquer  atenção à transparência, porque nunca se saberá se os jornalistas progressistas  não se porão, doravante, a apenas repetir o que ouviram do presidente.
  
  O silêncio forçado sobre o que lá se passou só estimula a especulação; estímulo  que esse blog aceita, com prazer. Talvez Schultz, da rede MSNBC, tenha dito ao  presidente: "Nós, aqui reunidos em torno dessa mesa, estamos com o senhor,  presidente." Talvez o presidente tenha manifestado sua frustração por aqueles  jornalistas esquerdistas não atacarem a oposição com fúria suficiente. Talvez  alguém tenha falado do canal Fox News, e os demais, em volta da mesa, lá  ficaram, balançando a cabeça. Talvez o presidente tenha pedido conselhos ao  grupo, embora jornalista que assistiu a outras reuniões off-the-record na Casa Branca no passado, diga que, isso, é pouco provável:  "Meu palpite, baseado na minha limitada experiência, é que presidentes, em  geral, interessam-se mais por se explicar, do que por ouvir conselhos" – diz.  Tanto quanto se sabe, os convidados pressionaram o presidente para que 'abrisse  tudo', tudo on the record, apesar de,  hoje, se sentirem obrigados a não comentar os próprios esforços.
  
  Mas... basta de falar mal de jornalistas importantes e seletos. O verdadeiro  problema aqui é um presidente que teme a exposição pública, ou teme, no mínimo,  grupos de repórteres famintos por respostas. A sempre citada professora da Towson  University, Martha Joynt Kumar, reuniu números que comprovam a baixa  disponibilidade de presidentes para conferências de imprensa e sessões de  perguntas & respostas com jornalistas. Verdade seja dita: Obama ultrapassa  muitos em termos de entrevistas concedidas (568, comparadas às 190, de George  W. Bush; às 187, de Bill Clinton; às 294, de George H.W. Bush; e às 224, de  Regan, no mesmo período de governo).
  
  David Leonhardt, diretor da sucursal do NYT  em Washington, observa que "não tenho notícias de o Times ter sido algum dia convidado para entrevistas on-the-record com o presidente Obama,  desde 2010." Nenhuma regra do Times proíbe  conversas em off com presidentes.  Sessões mais aprofundadas, diz Leonhardt, produzem dividendos que se veem na  matéria publicada. "Acho que leva a conversas mais ricas e a melhor cobertura",  continua. "Mas não me canso de repetir que a cobertura será sempre melhor, se o  repórter não se deixar envolver nessas conversas, e o mesmo vale para conversas  com o presidente". A dinâmica é a mesma, com outros altos funcionários, diz Leonhardt.
  
  Então, está dito. 
  
  Conspirações off-the-record com Obama  fedem, por duas razões. (1) Se o presidente diz algo que é notícia a um dos  convidados, a notícia, com certeza, vazará da sala. As reuniões off-the-record com Clinton, diz Tumulty,  "começaram a ficar problemáticas depois de um certo ponto, porque detalhes sempre  vazavam, ou um ou outro repórter conseguia algo que estivesse procurando, e a  notícia logo aparecia." O off, em  outras palavras, era tempo perdido. E (2) se o presidente nada diz que seja  notícia, que mereça ser publicado... para que servem as reuniões em off? Quer dizer: tempo perdido, também.
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