José Luís Fiori (http://cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5882)
A história do desenvolvimento   capitalista dos séculos XIX e XX registra a existência de alguns países com   altos níveis de desenvolvimento, riqueza e qualidade de vida, e com baixa   propensão nacional expansiva ou imperialista. Como é o caso das ex-colônias   britânicas, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, e dos países nórdicos, Suécia,   Dinamarca, Noruega e Finlândia. Todos apresentam taxas de crescimento alta,   constante e convergente, desde 1870, só inferior a da Argentina, até a 1º Guerra   Mundial. Hoje são economias industrializadas, especializadas e sofisticadas; a   Noruega tem o 3º maior renda per capita, e o maior índice IDH (0.943), do mundo;   a Austrália tem a 5º renda per capita, e o 2º melhor IDH do mundo (0, 929); e   quase todos tem uma renda média per capita entre 50 e 60 mil dólares anuais. A   Noruega é considerada hoje o país mais rico do mundo, em "reservas per capita",   e foi considerada pela ONU, em 2009, como "o melhor país do mundo para se   viver". E a Dinamarca já foi classificada – entre 2006 e 2008 - como "o lugar   mais feliz do mundo", e o segundo país mais pacífico da terra, depois da Nova   Zelândia, e ao lado da Noruega.
Canadá, Austrália e Nova Zelândia foram   colônias de povoamento da Inglaterra, durante o século XIX, e depois se   transformaram em Domínios da Coroa Britânica, até depois da 2º Guerra Mundial.   Mas até hoje são nações ou reinos independentes que fazem parte Commonwealth, e   mantém o monarca inglês como seu chefe de estado. Como colônias e domínios   funcionaram sempre como periferia da economia inglesa, mesmo depois de iniciado   seu processo de industrialização, mantendo-se – em média - a participação do   capital inglês, em até 2/3 da formação bruta de capita destes três países. E   todos eles estabeleceram relações análogas com a economia norte-americana,   depois do fim da Segunda Guerra. Neste século e meio de história, o Canadá –   como caso exemplar – esteve ao lado da GB e dos EUA na 1º e 2 º Guerras   Mundiais, alem de participar Guerra dos Boers e da Guerra da Coréia e de ser um   dos membros fundadores da OTAN, em 1949. Participou das Guerras do Golfo, do   Iraque, do Afeganistão e da Líbia, e participa diretamente do sistema de defesa   aeroespacial norte-americano. E o mesmo aconteceu, em quase todos os casos, com   a Austrália e a Nova Zelândia.
Por outro lado, os países nórdicos foram   expansivos, e a Suécia em particular, foi um grande império dominante, dentro da   Europa, até o Século XVIII. Mas depois de sua derrota para a Rússia, em 1720, e   depois da sua submissão dentro da hierarquia de poder europeia, os estados   nórdicos se transformaram em pequenos países, com baixa densidade demográfica e   alta dotação de recursos naturais, funcionando como pedaços especializados e   cada vez mais sofisticados do sistema produtivo europeu. A Suécia ficou famosa   pelo "sucesso" de sua política econômica anticíclica ou "keynesianas", depois da   crise de 1929, mas de fato logrou superar os efeitos da crise graças à suas   condição de sócia econômica, e fornecedora de aço e equipamentos para a máquina   de guerra nazista, que também ocupou a Dinamarca e exerceu grande influencia   sobre a região, durante toda a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, a   Dinamarca e a Noruega se tornaram membros da OTAN, e a Dinamarca segue sendo uma   passagem estratégica para o controle do mar Báltico. 
Por sua vez, a   Suécia participou das Guerras do Kosovo e do Afeganistão, e foi fornecedora de   armamentos para as forças anglo-saxônicas, na Guerra do Iraque. Por último, a   Finlândia, que fez parte da Suécia, até 1808, e da Rússia, até 1917, acabou   ocupando um lugar fundamental dentro da Guerra Fria, até 1991, e ainda ocupa uma   posição estratégica até hoje, no controle da Bahia da Finlândia, e da própria   Rússia.
Por tudo isto, apesar de que estes países tenham origens e   trajetórias diferentes, é possível identificar algumas coisas que eles têm em   comum:
i. São pequenos ou tem uma densidade demográfica muito   baixa
ii. Tem excelente dotação de recursos, alimentares, minerais ou   energéticos.
iii. Todos ocupam posições decisivas no tabuleiro   geopolítico mundial.
iv. E todos se especializaram em serviços ou setores   industriais de alta tecnologia, e em alguns casos, dentro da industria   militar.
Alguns diriam que se trata de um caso típico de "desenvolvimento   a convite", mas isto quer dizer tudo e nada ao mesmo tempo. O fundamental é que   o sucesso econômico destes países não se explica por si mesmo, porque desde o   século XIX, os "domínios" operaram como "fronteiras de expansão' do "território   econômico" inglês, e como bases militares e navais do Império Britânico. E os   países nórdicos, depois que foram submetidos, se transformaram em satélites   especializados do sistema de produção, e do poder expansivo europeu. E hoje,   finalmente, todos estes sete países operam como pequenas "dobradiças felizes" da   estrutura militar e do poder global dos Estados Unidos.
(*) José Luis Fiori é professor titular de Economia Política Internacional da UFRJ e coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo". (www.poderglobal.net)
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