Os comunistas guardavam sonhos

Por Cynara Menezes
No blog Socialista Morena

(Marighella, comunista de carteirinha)


Em homenagem aos 100 anos de Carlos Marighella, completados no último dia 5, e também a Oscar Niemeyer, publico aqui a letra e a música de Caetano Veloso, do novo disco Abraçaço, que contam a história de seu (nosso) conterrâneo guerrilheiro. Para marcar, nesta trincheira anti-reacionária, o que é ser um comunista: “vida sem utopia/ não entendo que exista/ assim fala um comunista”.

Um comunista

(Caetano Veloso)

Um mulato baiano,
Muito alto e mulato
Filho de um italiano
E de uma preta uçá

Foi aprendendo a ler
Olhando o mundo à volta
E prestando atenção
No que não estava a vista
Assim nasce um comunista

Um mulato baiano
Que morreu em São Paulo
Baleado por homens do poder militar
Nas feições que ganhou em solo americano
A dita guerra fria
Roma, França e Bahia

Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!

O mulato baiano, mini-manual
Do guerrilheiro urbano que foi preso por Vargas
Depois por Magalhães
Por fim, pelos milicos
Sempre foi perseguido nas minúcias das pistas
Como são os comunistas

Não que os seus inimigos
Estivessem lutando
Contra as nações terror
Que o comunismo urdia

Mas por vãos interesses
De poder e dinheiro
Quase sempre por menos
Quase nunca por mais

Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!



O baiano morreu
Eu estava no exílio
E mandei um recado que
“eu que tinha morrido”
E que ele estava vivo,

Mas ninguém entendia
Vida sem utopia
Não entendo que exista
Assim fala um comunista

Porém, a raça humana
Segue trágica, sempre
Indecodificável
Tédio, horror, maravilha

Ó, mulato baiano
Samba o reverencia
Muito embora não creia
Em violência e guerrilha
Tédio, horror e maravilha

Calçadões encardidos
Multidões apodrecem
Há um abismo entre homens
E homens, o horror

Quem e como fará
Com que a terra se acenda?
E desate seus nós
Discutindo-se Clara
Iemanjá, Maria, Iara
Iansã, Catijaçara

O mulato baiano já não obedecia
As ordens de interesse que vinham de Moscou
Era luta romântica
Ela luz e era treva
Venta de maravilha, de tédio e de horror

Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! os comunistas!

Comentários