A Globo, o Vôo 1907 e o delegado Bruno

Ao ver esse texto de Rodrigo Vianna, me lembrei de uma história da qual fui testemunha.
Em 2006 eu me tornei empregado da Petrobras após ser aprovado em um concurso público no fim de 2005.
Assinei o contrato de trabalho em 3 de julho.  Logo após um mês de curso básico da área de petróleo, passamos por três meses de curso de Comunicação Empresarial.
Na ocasião do curso, tivemos aulas professores de faculdades e universidades famosas, como ESPM e USP.  As gerências da área de comunicação da empresa também tiveram ocasião de apresentar suas atividades para nós.
Uma dessas gerências foi a de Imprensa, comandada por Lúcio Menna Pimentel.
A iniciativa de Lúcio foi bastante interessante: convidou representantes de veículos nacionais para dialogar com os mais de 120 profissionais de comunicação que estavam ingressando na empresa.  Estivemos com uma jornalista de rádio (CBN), de impresso (Agência Estado) e tevê (Globonews).
As aulas com essas três profissionais ocorreram na semana seguinte ao primeiro turno eleitoral de 2006 - que ocorreu em 01 de outubro.  Dois dias antes da eleição, ocorreu a tragédia com o vôo 1907 da Gol, que caiu matando todos os 154 passageiros e tripulantes após o choque com um jato privado.
A segunda-feira nos alcançou a todos ainda chocados com o acidente.
Lembro que estava no quarto de hotel assistindo o Jornal Nacional que só falava das fotos vazadas pelo delegado Bruno do dinheiro que petistas usariam para comprar o dossiê Vedoin contra Serra - foram presos em meados de setembro, no escândalo conhecido como "dos aloprados".
Logo após o fim do jornal, após o primeiro break da novela das nove, William Wack entrou em plantão informando o desaparecimento da aeronave.
Algum tempo depois, a Globo foi acusada de ter manipulado a edição do jornal para prejudicar a candidatura de reeleição do presidente Lula.  Raimundo Pereira assinou uma matéria na Carta Capital afirmando que a emissora já sabia do acidente da Gol antes do início do Jornal Nacional mas preferiu segurar a informação para valorizar a divulgação das fotos do dinheiro na edição do jornal.
Só então fez sentido um fato ocorrido na aula com a representante da Globonews, ocorrida ainda na segunda-feira, 02 de outubro. Eu mesmo perguntei a ela como a Globonews lidava com a matriz com respeito a possíveis furos jornalísticos.  A jornalista nos explicou que a Globonews não dá furos, mas os segura para a Globo.  Eles podem até fazer um aprofundamento mais detalhado que a matriz, mas sempre os furos pertencem à Globo.
Nessa hora, ela usou como exemplo o caso do acidente da Gol.  Segundo seu relato, a redação da Globonews já sabia do acidente desde o início da noite, mas houve uma orientação da direção da emissora para segurar qualquer notícia até que a própria Globo noticiasse.  Assim, quando William Wack interrompeu a programação normal informando o desaparecimento do avião, a Globonews entrou com uma pauta já bastante adiantada no aprofundamento da notícia.
Ela não sabia, mas estava nos contando o que garantia que Ali Kamel mentiu ao afirmar, como fez, que a notícia chegara à emissora durante a exibição do Jornal Nacional e que, para melhor apurar a questão, houve uma decisão editorial de não veicular a notícia no próprio jornal.
A decisão foi política.  Questionada pela matéria de Raimundo Pereira a Globo pediu aos seus jornalistas que assinassem um abaixo assinado defendendo a cobertura eleitoral da emissora.  Foi nessa hora que Rodrigo Vianna se revoltou, escreveu uma carta pública e deixou a Vênus Platinada.


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