O que a eleição de Feliciano e o fim da CDHM diz de nós?

Hoje a eleição de Marco Feliciano por onze deputados da bancada evangélica e sem a presença de parlamentares realmente comprometidos com os Direitos Humanos representou, na prática, o fim da história da Comissão de Direitos Humanos e Defesa das Minorias.
A Comissão foi criada em 1996 e teve como seu primeiro presidente o ex-ministro Nilmário Miranda (PT). Seu último presidente foi o petista Domingos Dutra, que renunciou antes da eleição de Feliciano.
Aquilo que sobrou lá não representa, em absoluto, os movimentos que lutam pelos direitos da pessoa humana no país.
Parêntese: me dói falar isso, eu que, além de militar na área há tempos, sou cristão evangélico desde 1996 - ou seja, há tantos anos quantos teve existência a CDHM.
Mas essa eleição diz mais, não apenas sobre o governo (o acordo que levou Feliciano à presidência e o PSC a cinco cadeiras no colegiado passou pelo PT e pelo PMDB), mas sobre a nossa sociedade brasileira.
Aqui, se mata cada vez mais por causa de questões de gênero e orientação sexual. E ainda se mata muito por questão de raça e classe.
Aqui, ainda assim, o principal gestor de jornalismo da principal emissora de tevê do país escreve um livro em que defende que "Não somos racistas".
O pensamento da classe média do país cada vez reproduz as idéias toscas, medievais e fascistas de que determinados indivíduos - notadamente negros e pobres que cometem crimes contra o patrimônio - não "podem ser considerados humanos". Cada vez mais jornalistas e pessoas de mídia influentes conseguem propagar a idéia que defender direitos humanos é defender bandidos - quando na verdade significa defender a sociedade e a própria condição humana.
Soma-se a isso a tentativa funesta de religiosos conservadores e outros reacionários de nosso ambiente social de desconsiderar a ameaça que a homofobia (que sempre anda aliada ao machismo) não existe no país.
A eleição de Marco Feliciano - e o consequente extermínio da CDHM - representa o coroamento de todo esse processo e nos mostra no espelho quem somos nós: racistas, homofóbicos, reacionários e preconceituosos.

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