AI-5 de Rosalba: Cição e as carcaças que precisam ser mostradas


Por Marcos Dionísio Medeiros Caldas
Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos
No Blog do Ivênio Hermes


Vocês lembram que em Dezembro de 2011, o Governo do RN editou um decreto que proibia a realização de atos no âmbito do Centro Administrativo? A OAB e militantes sociais, usando as redes sociais, conseguiram pressionar e a Governadora Rosalba Ciarlini revogou o decreto, chamado, coerentemente, de AI-5 de Rosalba. Após a revogação, a própria governadora explicou que, apesar da revogação, não discordava do seu conteúdo.

Pois bem, no terceiro ano de seu governo, qualquer protesto que adquira certa presença de rua é tratado como caso de polícia. Foi assim no Fora Micarla; no ato do Fórum em Defesa da Saúde onde uma grávida advogada foi agredida; na Revolta do Busão e até o Baiacú entrou na vara, figurativa e literalmente, acabando o pacífico Carnaval da Redinha. Sem falar nos processos contra o Presidente do Conselho de Medicina, Dr. Jeancarlo Cavalcante no episódio do Fio de Aço.

Em Caicó, agricultores e pecuaristas, organizaram um singelo ato contra a indiferença dos órgãos estatais quanto a terrível situação provocada por mais uma seca. Um carro de som, indignação, “informações desencontradas”sobre umas sacas de milho e umas carcaças de animais, foram o bastante para Cição, ser conduzido algemado e num camburão até à Delegacia, onde posteriormente foi liberado.

O PM que conduziu Cição, afirmou que ele não havia sido preso. Então foi uma prisão para averiguação? E isso existe ainda na vigência da Carta Magna da Primavera de 1988?

Como podemos observar, o direito a manifestação é livre no RN, desde que não incomode aos coronéis do poder. O Estado continua a ser bem forte frente aos fracos e, pusilânime frente aos fortes, como nos dizia Octavio Paz.

Atos semelhantes foram realizados na Paraíba sem maiores consequências ou conflitos. Mas a estupidez de quem é caudatário do arbítrio e da violência, é que com a repressão negada, deu divulgação ao ato e o transformou num emblema de como a seca é tratada por nossas autoridades que continuam reféns daquela que, nos anos sessenta, foi chamada por Antônio Callado, da Indústria da Seca no seu magistral “Os Industriais da Seca e os Galileus de Pernambuco”.

Passadas quatro décadas do lançamento da citada obra, a Indústria nunca esteve tão forte como continua a manipular o destino de milhões de nordestinos, reservando-se para si, inclusive, também o papel de salvador da pátria.

O grito de Cição e de seus companheiros de manifestação e o ato que o movimentos sociais estão organizando tenderão a ganhar corações e mentes país afora, pois já é chegada a hora do Brasil usar a tecnologia de que já dispõe para salvar o Nordeste da inclemente seca.

O Governo do RN que também condena nosso homem do campo a perder metade dos seus animais e não permite que se ouça seu grito, não conseguirá calar os potiguares. A terra de Poti saberá despertar dos pesadelos administrativos e descortinar dias melhores para compartilhar suas riquezas.

Está na hora do governo começar a governar e também descobrir que numa Democracia o exercício do poder há que ser dentro da legalidade e do equilíbrio. Ao invés de colocar a polícia no encalço dos movimentos sociais, bem poderia assuntar se não há um tiquinho de descompasso entre o maravilhoso mundo mostrado pela propaganda governamental do Governo do RN e a vida dura de seus concidadãos.

A imagem da vaca bebendo urina do bezerro que mamava, a humilhação tentada contra Cição e as fotos de presos algemados a barras de ferro mostram a falência múltipla das políticas públicas no RN. E olhem que nem falei das mortes matadas e nem das mortes morridas nos hospitais. Tampouco falei de execuções e também das mortes de Policiais.

RIO GRANDE DE MORTE, sem sorte e sem NORTE.

O AI-5 de Rosalba vive sua plena eficácia e já é hora do potiguar fazer como Cição e começar jogar suas carcaças nas ruas…

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