"Aquilo foi um absurdo", diz juiz que enfrentou policiais durante manifestação

Em O Povo

A foto compartilhada nas redes sociais desde a noite da última quinta-feira, 27, fala por si só. O homem que aparece na imagem confrontando de frente com policiais armados e protegidos com escudo é Silvio Mota, 68 anos, juiz do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), atualmente aposentado. Ele e sua esposa estavam na manifestaçãoorganizada em torno da Arena Castelão e, segundo Silvio, foram vítimas da abordagem "despreparada e violenta" da Polícia Militar. A foto saiu na capa do jornal americano The New York Times na manhã desta sexta-feira, 28.

Em depoimento no Facebook, Silvio conta: "Por que avancei? Em primeiro lugar, porque a Polícia não se manteve nas barreiras e avançou para acabar com a manifestação. Uma manifestação pacífica, de cara limpa, em que tremulavam bandeiras dos movimentos sociais e até de partidos políticos".

Em conversa com O POVO Online, o magistrado fala que avançou cantando: "Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor". Isso aconteceu após sua esposa, também de 68 anos, ter sido atingida com gás lacrimogênio lançado pelos policiais. "A minha esposa foi atingida pelo gás e foi por isso que eu fui até eles", contou Silvio, que explicou que, ao dizer aquelas palavras para os policiais, os PMs afirmaram que ele não podia estar ali e pediram sua identificação. "Parece que eles não gostaram muito do que eu disse, pediram minha identificação e quando viram que eu sou juiz, desistiram".


Fotos: Evilázio Bezerra/ O POVO 

Ainda segundo Silvio, a Rede Globo não transmitiu a realidade dos fatos naquela tarde. "Eles não respeitaram a ordem dos acontecimentos. As ações dos manifestantes eram puramente defensivas até o momento em que eu estava na manifestação. Jogaram artefatos contra mim, enquanto eles ficavam naquilo que parecia mais com uma armadura humana. Foi um absurdo o que aconteceu".





Silvio e sua esposa não sofreram ferimentos e saíram da manifestação por volta das 14 horas, quando se encaminharam para um restaurante, pois ele é diabético e precisava se alimentar. "Depois de voltar para a manifestação encontrei minha mulher, ficamos ainda algum tempo aguentando gás lançado contra nós sem motivo, em trajetórias de longo alcance e ainda deu tempo para sair com nosso carro e almoçarmos em um restaurante (o que tinha que fazer com urgência, pois já eram duas da tarde e sou diabético)", disse o juiz no depoimento.

Silvio é coordenador da Associação de Juízes pela Democracia do Ceará e estava participando da manifestação como coordenador do Comitê Memória Verdade e Justiça do Ceará.

A filha de Silvio, Natalia Mota, publicou em sua página no facebook uma homenagem ao pai pelo seu feito na manifestação: "Pai, muito orgulho hoje e sempre!! Obrigada pelo exemplo! Hoje o Brasil e o mundo entenderam o que significa "não fugir à luta!!!".

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