Por Marcos Dionísio Medeiros Caldas
Nosso Ex-ministro dos Direitos Humanos,   Paulo Vannuchi, acaba de vencer renhida disputa para a Comissão   Interamericana de Direitos Humanos da OEA. Uma Vitória incontestável da   diplomacia brasileira e do Brasil que insiste em continuar a luta! Sua   trajetória na luta pela redemocratização, seu espírito diplomático e seu   olhar de águia no futuro da humanidade, o credenciam para tão especial   tarefa.
Convivi com Vannuchi no Fórum de   Gestores em Direitos Humanos, de 2006 a 2010, onde travamos inúmeros   debates. Impressionava sempre a riqueza de suas intervenções, sempre   acompanhada de uma leitura da evolução da política internacional clara,   concisa, pedagogicamente falando sempre a "fala dos Direitos Humanos"   para o conjunto das pessoas. Além de não se furtar ao debate, sempre   nos brindava com exemplos da literatura, do cinema e das pessoas simples   com quem conviveu nos "tempos de luta", ou seja, por toda sua   vida. Além da energia política, o ministro nunca perdia a piada e nem os   amigos que granjeou no citado fórum.
Obstinado por nossa Memória e Verdade,   desde que me conheceu, não se cansava de repetir de que precisávamos   fazer uma homenagem à Luís Maranhão, e quando o informamos de que a   placa comemorativa deveria ficar em determinado órgão, Vannuchi com seu   olhar na história, docemente discordou e vaticinou de que a homenagem   para ser insuperável deveria ficar afixada nas paredes da Assembleia   Legislativa. No ato que constou da Caravana da Anistia no RN, ante um   pequeno imbróglio entre cerimoniais e dada a delicadeza da presença de   parlamentares que por vivenciarmos um momento eleitoral estavam vedados   de participar de atos institucionais, o ministro me chamou num canto e   me nomeou cerimonialista. Não fiquei surpreso, pois o mesmo num   determinado evento em Brasília me chamou à mesa diretora dos trabalhos   de um evento e me passou o microfone e a palavra para fazer a saudação à   viúva de Mitterrand em visita ao Brasil.
Em retribuição "aquela molecagem", o homenageamos no IV Congresso Brasileiro de Direitos Humanos, que o IPEJUC realizou em 2010.
Com a mesma coragem com que ajudou a   luta pelos direitos humanos no Brasil a agendar a Comissão da Verdade,   com que coordenou a construção do III Programa Nacional de Direitos   Humanos, com a mesma ousadia com que sensibilizou importantes figuras do   empresariado brasileiro para um olhar pelos Direitos Humanos, Paulo   Vannuchi chega à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA,   levando o sangue dos nossos mártires pela liberdade, as lágrimas dos   seus parentes e amigos e como herdeiro dos seus sonhos, utopias e   estradas.
Essa vitória da diplomacia brasileira   nos enche de orgulho e aponta uma agenda continental pela construção de   uma República Interamericana sob à égide dos Direitos Humanos , livre,   soberana e generosa como sonharam e nos legaram Alexandre Vannuchi,   Victor Jara, Luiz Inácio Maranhão Filho, Sílton Pinheiro, Paulo   Fonteles, Eugênio Lyra, os Angel, Santana, os Petit, Sandino, os   Canutos, Titos, Chico Mendes, Helenira Rezende, Dina, Rubens Paiva,   Oswaldão e todos os que os que colocaram a liberdade e a luta como   pressupostos para o içamento da felicidade interamericana. Por vezes a   conjuntura  quase nos põe em desespero, mas vitórias como esta nos mostra   que "a história é um carro alegre / cheia de gente contente / Que atropela indiferente / Toda aquele que a negue",   como nos cantou Pablo Milanez e Chico Buarque. A chegada do brasileiro   Paulo Vannuchi à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA   sedimenta de que não queremos o passado como era e que o presente, com   ousadia, precisa parir o futuro de maneira inadiável.

Comentários