NINJA: Precursores, prisão e a morte política do governador

Em 2011, protestos explodiram pelo mundo inteiro, a partir da Primavera Árabe na Tunísia e no Egito. 
Já ali, o recurso à smarthphones e a transmissões via streaming era presente.
Quando os protestos chegaram primeiro à Espanha e, depois, ao OccupyWallStreet nos Estados Unidos, era comum a gente acompanhar as movimentações pelo computador. Coloquei neste blog, na época, o canal Global Revolution, que mostrava transmissões em todo mundo, especialmente nas cidades americanas que haviam aderido ao OccupyWallStreet.
Já se usava o celular, mas os aplicativos da época não eram os melhores para compartilhar o link.  Nada superava a Twitcam ou Twitcast através de um computador acoplado a um sinal 3G.
Não fui o primeiro a usar o computador para transmitir protestos em Natal. O perfil coletivo @XoInseto fazia antes de mim.
Na primeira ameaça de desocupação da Câmara Municipal de Natal, ocupada em junho de 2011, entrei no prédio, liguei o computador ao celular e comecei a transmitir. Boa parte das transmissões na Câmara ocupada foi feita através de meus equipamentos. 
Ano passado voltei às ruas, com computador e celular acoplado, transmitindo os protestos da #RevoltadoBusao.
Ainda em 2011 comecei a ficar com medo de um dia ser preso enquanto fazia a transmissão. Achara que ninguém faria isso diante de uma câmera ao vivo. Até que comecei a ver a polícia pretendo, antes de todo mundo, os manifestantes com streaming nas ruas de Nova Iorque.  Por isso, o medo.
Nunca fui preso.
Foi na época do OccupyWallStreet que ouvi falar do Bruno Torturra. Torturra ficou alguns dias no acampamento do Parque Zuckot.
Foi dele a idéia, implementada pela Casa Fora do Eixo, da mídia NINJA - que representa a sigla Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação).  A grande mudança: a minituarização. Não é mais necessário levar o computador a um protesto. Basta o celular - agora o aplicativo apresenta melhor qualidade.
NINJA é um nome que gruda na idéia e representa isso mesmo: uma idéia.
Hoje à noite a PM do Rio prendeu dois NINJAs no protesto em torno do Palácio Guanabara, na recepção ao Papa Francisco.
Cada dia mais me vejo imerso na distopia orwelliana.  Além da repressão à mídia independente, o episódio revelou uma polícia militar que se manifestava via Twitter tal qual os representantes do Partido do romance "1984". A PM tuitou que a manifestação não podia ser democrática se impedia o trabalho da imprensa (ao mostrar foto de um carro da Rede Globo depredado), mas afirmou que os repórteres da Mídia NINJA haviam sido presos por incentivar o vandalismo.
Mostrou fotos e nomes completos dos repórteres presos, para logo em seguida reclamar do fato de o perfil da Mídia NINJA ter publicado dados do Tenente Puga, que prendeu um dos NINJAs.  Duplipensar.
A noite de hoje representou, a meu ver, a morte política de Sergio Cabral.  E quem matou foi a sua PM - também quando disparou com, supostamente, munição letal contra manifestantes, como o jovem ferido na perna.

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