Papa Francisco se aproxima da Teologia da Libertação

No Globo

Reflexo dos novos ventos de mudanças que sopram no Vaticano, o Papa Francisco celebrou, na última quarta-feira, uma missa com o sacerdote peruano Gustavo Gutiérrez, fundador da Teologia da Libertação, e Dom Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, na capela Santa Marta.
Após as condenações de seus excessos, críticas e incompreensões nos anos 1980, este encontro foi considerado uma espécie de pacificação ou de reabilitação entre o Vaticano e a Teologia da Libertação.
É possível ver um clima de abertura desde que Francisco, que já visitava favelas quando estava em Buenos Aires, defendeu a ideia de “uma igreja para os pobres” ao ser eleito Papa.
A reconciliação com a corrente — nascida depois do Concílio Vaticano II para lutar contra a pobreza através do Evangelhos — começou com Bento XVI. Foi ele quem nomeou para a congregação Müller, muito próximo à Teologia da Libertação.
Durante anos, Müller passou suas férias entre os camponeses latino-americanos e manteve estreita amizade com o dominicano Gutiérrez. Os dois escreveram, em 2004, “Do lado dos pobres, Teologia da Libertação, a teologia da Igreja”. O jornal do Vaticano “L'Osservatore Romano” incluiu recentemente um comentário sobre o livro: “Com um Papa latino-americano, a Teologia da Libertação não poderia ficar muito tempo à sombra, para onde tinha sido relegada há anos”, afirmou Ugo Sartorio, comentarista do Vaticano.
Para o lançamento do livro, Gutiérrez viajou à Itália e se reuniu com Francisco. O dominicano, que nunca foi condenado pela congregação, disse ao Papa: “Obrigado pelo seu testemunho (para o livro)”. Ao ser perguntado sobre as investigações impostas entre 1984 e 1986 pelo Vaticano à sua teologia, o sacerdote peruano respondeu: “Tudo isto pertence ao passado porque hoje a Teologia da Libertação é mais conhecida e, por isso, mais apreciada. A questão da pobreza sempre esteve presente na Igreja. Mas a sua compreensão mudou porque, por muito tempo, a própria Humanidade aceitou a pobreza como uma fatalidade. Hoje estamos mais conscientes das causas e sabemos que é uma criação dos homens”.

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