Por que me filiei ao PT?

Na semana passada, depois de sete anos, pedi a desfiliação do Partido Comunista do Brasil. Minhas razões foram explicadas aqui.

Não sai porque houvesse sido convidado por qualquer outro partido. Na verdade a saída foi resultado de algum tempo de reflexão.

Ao sair, refletia sobre a possibilidade de permanecer fora de partidos a fim de ter liberdade de defender causas de esquerda sem maiores comprometimentos.

Mas valorizo a política e a militância partidária. E neste sentido, fiquei honrado de receber convites para dois partidos políticos - o que me fez pensar.

Como fazer a escolha - que é afinal, um ato político bastante individual?

Estava claro para mim que minha opção necessitava ser à esquerda. Outro critério: diante do cenário que se desenha para a eleição de 2014 e de acordo com as ações do governo neste ano, especialmente depois de junho, passei a considerar que o partido de minha escolha deveria estar no campo de defesa dos governos Lula e Dilma, apoiando a reeleição da presidenta - o que facilitou a escolha.

Agradeço ao convite que me foi feito pelo PSTU para estudar seu programa e pensar na hipótese de filiação. Imagino que continuarei privando da sua amizade e companheirismo nas causas que nos unirem e nos forem comuns - assim como considero como eternos camaradas cada um dos militantes do PCdoB, partido do qual muito me honro ter feito parte.

A minha decisão partiu daí mas outros elementos estão presentes.

Na tarde desta terça-feira encaminhei meu pedido de filiação ao Partido dos Trabalhadores.

Julgo que preciso falar um tanto sobre essa opção.

Em primeiro lugar, Lula e o PT têm uma relação afetiva, pessoal e familiar muito íntima comigo. Em 1989, aos dez anos de idade, fiz, nos limites do tempo e de minha idade, efetiva campanha pela eleição de Lula. Assim como fiz em 1994. E votei nele em 1998 e 2002. Em 2006, devido ao meu ingresso na Petrobras e o deslocamento para o Rio de Janeiro, não votei - mas lembro do comício de Lula no segundo turno na Cinelândia, do qual participei.

Evidentemente, Dilma, por cuja eleição dediquei ricas horas de meus dias em 2010, também recebeu meu voto.

Porém é mais que isso. Meu pai, Rubens Lemos, ajudou a organizar o PT no RN e foi o primeiro candidato a governador do partido no estado. Não à toa, há um bom número de familiares, especialmente irmãos, filiados ao Partido até hoje.

Isso me fez caminhar sempre muito próximo de companheiros e lideranças do PT a vida inteira. Não apenas no RN, onde já estive lado a lado de gente como Fátima Bezerra e Fernando Mineiro em inúmeras lutas, como também quando morei em Salvador.

Mesmo ciente das contradições internas e problemas do PT, sempre admirei o partido.

Sei que o PT não é partido só de santos. Mas ele não finge ser - como também não finge ser um partido unitário (sempre que ouço a palavra de ordem “partido, partido é dos trabalhadores” imagino que sem a vírgula o grito também faria sentido), ainda que se estabeleça na base do centralismo democrático.

O PT parece ser um espaço de disputa entre correntes mais à esquerda e ao centro (há quem fale em direita do PT) - um partido que nesse amplo espectro de esquerda incorpora o comunista revolucionário como era meu pai e o seu PCBR e o reformista liberal.

Entendi, portanto, que poderia contribuir na luta por mudar a vida do povo pobre, sofrido e trabalhador do país desde dentro do PT, já que não mais me sentia confortável dentro do PCdoB.

Em muitas de minhas práticas, a mudança de partido não altera nada. Se estando no PCdoB procurava defender ideias abrangentes e inclusivas, ao mesmo tempo que evitava posturas sectárias, garanto que é assim que continuará sendo minha postura.

Sempre entendi que a esquerda deveria estruturar caminhos e propostas unida, mesmo que houvesse entre nossos partidos diferenças táticas, ideológicas e eleitorais - mas as causas que nos unem são muito mais abrangentes, urgentes, importantes e fundamentais.

Sempre entendi que o militante partidário precisa se envolver nos movimentos dos quais toma parte para contribuir com sua visão de mundo, sua energia política e as propostas de seu partido - nunca agir na tentativa de aparelhar os movimentos.

Essas coisas não mudam agora. Especialmente porque sinto que, agora, esses diálogos são ainda mais importantes.

Sou militante e, como militante, filiado a partido político. Mas procuro agir com coerência. Foi essa coerência que me fez divergir de meu então partido e votar na eleição de 2012 em Mineiro. Essa coerência me fez deixar o PCdoB e em busca de uma ação coerente que eu me filio ao PT.

Se um dia essa filiação me impedir de criticar o governo, outros membros do partido e o desenvolvimento de ações políticas e políticas públicas equivocadas, a coerência vai falar mais forte.

Evidente que não entendo coerência como se significasse que me considere dono da verdade. Ao contrário, como sabem meus alunos, ao falar sobre a coerência falo de fazer o que acho certo e viver de acordo com o que sei e creio.

Serei sempre assim.

Agora no Partido dos Trabalhadores.

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