Onde o bode Galeguinho e o silêncio dos inocentes se encontram

Por um Rio Grande do Norte desnovarepublicacizado

Por Marcos Dionísio Medeiros Caldas

Os mais atentos devem se lembrar da anedota política, atribuída ao empresário da construção civil, Fernando Bezerra, de que ele tivera que eleger Garibaldi Alves Filho, várias vezes, para poder se fazer Senador .
No provável ACORDÃO que o presidente da Câmara Federal, Henrique Alves articula, a partir do formidável poder que amealhou , cabe ao aludido Empresário, o papel de candidato ao Governo do Rio Grande do Norte, nas eleições desse ano.
E esse até se saiu bem no papel de garoto propaganda de requintado empreendimento imobiliário, driblando a fiscalização como Garrincha fazia aos joões”.
Mas a política é como nuvem, já disse alguém, muda de forma a cada instante e, considerando que, a nível de Estado, estranhamente, se deixou de falar na reeleição do presidente da Câmara para novo mandato seria conveniente ao empresário Fernando Bezerra, por as barbas de molho, apesar dele não usar tal “apetrecho facial”.

Na última sexta-feira, 24, encontrei um amigo que me falou de uma interessante palestra proferida por inteligente jornalista, atuante na área política nacional, num evento ocorrido num hotel da Via Costeira, na verdade, um encontro promovido pelo PMDB, através da Fundação Ulysses Guimarães.
O amigo narrou as ricas reflexões feitas pelo sabido jornalista sobre o PMDB, desde a luta pela redemocratização e após sua chegada ao poder, diretamente ou em parceria. Depois, a conversa resvalou para amenidades e a informação de que os gritos mais robustos e organizados, no evento, eram de “HENRIQUE GOVERNADOR”.
Na oportunidade, surpreso ou fingindo estar, o Ministro Garibaldi Filho disse aos presentes: “Eu não esperava encontrar aqui uma claque pró-Henrique”. E a replica do Deputado sendo ovacionado por seus pares não poderia ser outra: “essa claque foi Garibaldi quem organizou”.

O longínquo Deputado nega a candidatura, reafirma-se candidato a reeleição para poder novamente presidir a Câmara dos Deputados e indica ao Governo do RN o nome de Fernando Bezerra. Mas percebe-se, em momentos como o do Evento falado, que dissemina nuvens e tarefas a aliados para cutucar e deixar em suspenso o projeto de eleger o Empresário ou então, ele mesmo e o outro prócer do PMDB, semeiam as dúvidas e certezas em tiradas que querem se saber jocosas.

Pelo programa do jornalista Diógenes Dantas apresentado todas as manhãs, ficamos sabendo de acordo firmado, já tem um certo tempo , do líder do PMDB com o DEM , de José Agripino, que tenciona reeleger o filho . Não se sabe se o acordo com o DEM foi pactuado em varandas de casas de praias, sótãos ou coberturas de luxo. O certo é também que, ontem, 28 de Janeiro, ficou nítido na entrevista de Diógenes com Rogério Marinho que o Presidente do parlamento brasileiro já acolheu o vôo tucano no RN.
A pergunta é: Este acolhimento seria só no nosso Estado?
Não sobraria quase ninguém fora nessa coligação tipo “Arca de Graçandu”, claro que com previsão até de acolhimento de bodes, galeguinhos ou não.

Como as pesquisas que mostram a rejeição da governadora Rosalba Ciarlini, não estão retratando também o grau de rejeição de nenhum outro postulante ou indicado a concorrer ao Executivo potiguar, muito menos do tal ACORDÃO, poderia haver “surpresa” se tal malabarismo não for abraçado pelo eleitorado que anda rançoso e escabreado? De jeito e maneira...
Como na piada de Feola e Garrincha, falta ao pretenso herdeiro de Ulysses Guimarães, combinar com os russos que, a essa altura já devem se sentir cansados de tanto serem citados incidentalmente, acidentalmente e, até, hipocritamente. Mas a figura do futebol é sempre resgatada no Brasil quando se fala de política ou do raio que nos parta.

Além da rejeição ao Acordão e, particularmente a alguns postulantes, ainda não aferidas, há algumas variáveis que precisam ser mais bem ponderadas, pois podem trazer um aperreio da moléstia para o projeto de nova “Nova República Potiguar” e tornar insustentável a ardilosa estratégia do decano dos parlamentares.

Imagina se sobrevier um afastamento da atual Governadora. A abreviação do mandato de Rosalba Ciarlini que tem em Henrique e Agripino seus maiores adversários - e ambos sabem o porquê - causaria um redemoinho capaz de pulverizar de vez o pretendido Acordão.
Em sendo assim, teríamos a ascensão de Robinson Faria que, ao contrário de Henrique, abandonou a nau da insensatez enquanto ele aderia ao desastre consumado. Robinson tem densidade eleitoral e está bem situado e só aparentemente, no banco de reservas.
Nessa hipótese, é possível que a insistência em se promover a junção do PT com o PMDB possa ser questionada com novas alternativas, quem sabe até com o PT lançando candidato próprio ou ainda priorizando o Projeto de fazer Fátima senadora, em aliança menor, todavia mais sadia e consistente, coisa que, aliás, deveria ter feito “derna” o ano passado quando nos primeiros meses foi apresentada ao RN aquela pesquisa que colocava o deputado estadual Fernando Mineiro e a deputada federal Fátima Bezerra bem a frente dos demais postulantes.

Como “camarão que dorme a onda leva”, outros nomes avançaram e o PT ficou meio que encalacrado nos meandros dos movimentos de Henrique Alves. Coligar-se à vera com o PMDB, correndo o risco de mais uma cristianização ou reconstruir caminhos capazes de rediscutir o RN para além de nomes, e em busca de um desenvolvimento sustentável e compartilhado por todos e não somente pelos bem aquinhoados de sempre? A segunda opção tem a cara da luta e do futuro do RN.

Fico na esperança de que algo de novo aconteça, mesmo com personagens conhecidos e até limitados, pois tudo que não precisamos mais para compor a história do RN, depois de Micarla de Souza e Rosalba Ciarlini é a possibilidade de nossas oligarquias renovarem suas perenes forças, elegendo o oligarca mais esperto.

Para dar um descanso a Garrincha, vou valer-me de outro craque, Gerson e a injusta “Lei de Gerson” - a qual dizia que “o importante é você levar vantagem em tudo”, lei que vitimizou o simpático Canhotinha de Ouro - para dizer que a política exige ousadia, bom senso e um mínimo de coerência. E coerência não é sectarismo.
Mas a pretexto de se evitar o sectarismo não se pode abraçar toda sorte de soluções fáceis e generosas e até, nas aparências, confortáveis.
Nada mais próximo de uma derrota do que uma vitória para o Governo, com parceiros que já farão com que esse seja natimorto do ponto de vista programático e de compromissos com o povo.
Melhor do que ganhar com Henrique é organizar nosso povo para discutir o Rio Grande do Norte que queremos e desconstituir os fatores que engendraram esse RIO GRANDE DE MORTE, ao qual Henrique aderiu de caso pensado e disputar o eleitorado com afinco, ousadia e possibilidade de vitória.

Democracia não é certeza de vitória, é um espaço de possibilidades e de liberdades.
Querer construir unanimidades em torno de um ACORDÃO mostra bem as digitais de uma oligarquia que após ser novidade por aqui, começou a entrar para a história do país mesmo a partir do Relatório Veras, o qual trouxe à tona sua índole intolerante e sua facilidade em marcar duplo politicamente, muito antes da existência da loteria esportiva, e até de se esmerar na desfaçatez e marcar triplo como bem clivou no mesmo programa de Diógenes Dantas, o vereador Hugo Manso, nesta manhã de 29 de janeiro.

E por falar em Hugo Manso, lembro que ainda continuam atuais, vívidos e pulsantes os sonhos de justiça social, cívicos, éticos para fazer de Natal e do RN (Frente Popular de Natal e a Frente Popular Potiguar - 1988 e 1990) - uma praieira e um lugar que seja uma terra da liberdade, qualidade de vida, tolerância e desenvolvimento, compartilhado por quem começa a ser incluído socialmente. Aprendi a sonhar assim com pessoas como o professor Waldson Pinheiro, Glênio Sá, Alírio Guerra, Chicão Marques, Régis Cortês, Anchieta e outros que continuam a lutar cotidianamente nesse plano.
Esses sonhos ainda não se tornaram reais e é por isso que vale a pena nos insurgirmos contra o rolo compressor em curso.
Tudo que não precisamos nesse momento é que o RIO GRANDE DE MORTE receba continuidade num governo como o vislumbrado pelo ACORDÃO.

A propósito, convém ao Empresário Fernando Bezerra, anfitrião do fabuloso Henfil no RN, ler as tirinhas com personagem Ubaldo, o paranóico, pois, também para o empreendedorismo, o ACORDÃO vitorioso, garantiria tão somente a manutenção do mando das Casas Grande agora exercido a partir de SÓTÃOS, VARANDAS e COBERTURAS, reais ou virtuais.
O primeiro ACORDÃO deu ao RN, em 1978, a vitória do Senador da ARENA, um agrado para os generais; o segundo ACORDÃO nos deu o espetáculo da gestão de Micarla. E o terceiro, velado, garantido num triplo, legou ao RN a Suíça de ROSALBA.

Na proposta atual, querem ser mais diretos e entregar o poder no RN ao infante da ARENA VERDE.
Mas ainda é tempo da terra de Poti se levantar!
ACORDO SÓ COM O POVO!
Até o Maranhão já tá se bulindo para mudar após a tragédia eleitoral de 2010 que manteve os Sarney no poder numa tragédia continuada que não se resume a barbárie de Pedrinhas...

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