Protesto termina com 19 detidos, tiros e grade da Arena depredada


No início da noite de ontem (25), aproximadamente 200 pessoas participaram de um ato contra a realização da Copa do Mundo em Natal. Há cerca de um mês, os manifestantes organizaram o protesto através das redes sociais. O lema do grupo é #NãoVaiTerCopa. Atos parecidos foram realizados em outras cidades do país. Na capital potiguar, o protesto teve caráter pacífico apenas nos primeiros minutos da manifestação. Ao final do episódio que durou cerca de três horas, 19 pessoas, incluindo alguns adolescentes, foram detidos e levados à Delegacia de Plantão da Zona Sul. Parte da grade externa da Arena das Dunas foi depredada e os seguranças do local atiraram para cima. Ninguém ficou ferido.

A manifestação teve concentração a partir das 17h, ao lado do shopping Via Direta. Por volta das 18h, o grupo composto por jovens – a maior parte travestida de preto, usando máscara ou camiseta no rosto e adepta das práticas “black bloc” – ocupou a marginal da BR-101, sentido Centro. Havia representantes do Movimento Passe Livre (MPL) e Assembleia Nacional dos Estudantes (Anel). Não demorou muito para que todas as vias no mesmo sentido estivessem ocupadas pelos jovens.O grupo caminhava ao som de batucada e palavras de ordem contra a realização da Copa no Brasil e a presidenta Dilma Rousseff. O destino era a Arena das Dunas – futuro palco de quatro jogos do campeonato mundial em Natal que será aberto ao público na tarde de hoje (26).

No trajeto até o estádio, alguns manifestantes picharam as muretas de proteção da via, outros jogavam bombas e fogos de artifício e outros se divertiam jogando bola. Em menos de uma hora o grupo chegou ao destino desejado. Em nenhum momento houve intervenção por parte da Polícia Militar (PM) e apenas uma única viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF), com dois policiais, acompanhava o protesto de longe.

Ao chegar à frente da entrada principal da Arena, nas proximidades do viaduto do Quarto Centenário, a manifestação que seguia de forma pacífica, ganhou uma sequência de episódios violentos com depredação de patrimônios públicos e privados, além de afronta ao direito de ir e vir dos cidadãos.

O trânsito foi bloqueado em todas as vias no sentido Sul. Refletores colocados há poucos dias no canteiro central da BR foram quebrados enquanto o grupo se aproximava cada vez mais da entrada do estádio. Desesperado, um grupo de funcionários da Arena das Dunas tentou montar uma barreira com grades de contenção. Um grupo tentou derrubar a barreira, mas foi contido por outros manifestantes.

Sem o fluxo de veículos, algumas pessoas improvisaram um jogo de futebol na via enquanto outros discutiam com motoristas. Um dos manifestantes jogou um saco de tinta verde em cima de um carro. Um “black bloc” subiu num ônibus e, com gesto de vitória, balançou uma bandeira preta.

Tiros, fogo e correria
Sem a intervenção da polícia, o grupo agiu livremente em todas as vias da BR-101. Os ânimos se exaltaram e os manifestantes tentaram invadir o estádio. Os jovens encapuzados arrastaram as grades para o meio da BR e o acesso para invasão ficou livre. Nesse momento, alguns seguranças da Arena das Dunas sacaram armas e tiros foram disparados para cima. O grupo não se intimidou e avançou em direção ao estádio ateando fogo numa tenda que havia no local e quebrando parte do alambrado.

Os jovens ainda tentaram, sem sucesso, atear fogo em um palco montado na área de circulação da Arena. Uma espécie de guarita também foi destruída. A ação violenta dos jovens e o revide dos seguranças duraram mais de meia hora sem que a polícia chegasse ao local. Houve correria entre os próprios manifestantes. Objetos foram atirados contra a imprensa. Motoristas se desesperaram e retornaram na contramão. “Chamamos a polícia há mais de uma hora e não tivemos resposta. É um absurdo”, disse um dos seguranças no meio da confusão.

Temendo a chegada dos policiais ou uma resposta mais enérgica por parte da vigilância privada da Arena, os manifestantes decidiram deixar o local seguindo em direção ao ponto de partida do ato. No caminho de volta, o grupo se deparou com viaturas do Grupo Tático Operacional Rodoviário (GTOR), da PM. Houve nova correria e tumulto no meio da BR.

Parte dos manifestantes tentou se esconder nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Um grupo entrou na Capela do Campus – onde era celebrada uma missa – na tentativa de despistar os policiais. Não adiantou. Os policiais do GTOR entraram no templo e com outras buscas conseguiram prender 18 manifestantes.

Um outro participante foi preso pelos policiais da PRF. Entre os detidos, estavam cinco mulheres e pelo menos dois adolescentes. Todos foram encaminhados para Delegacia de Plantão Zona Sul, em Candelária. Os manifestantes contam que os policiais agiram de forma truculenta e alguns atiraram sem necessidade. “Eles chegaram dizendo que a gente ia levar tiro. Isso não era necessário”, contou um jovem.

Com o grupo detido, a polícia achou uma pequena quantidade de maconha, canivetes, máscaras, tesouras e uma garrafa de cachaça. Segundo um policial civil, os jovens serão autuados por danos aos patrimônios públicos e privados, desordem pública e agressão. Na confusão, uma viatura do GTOR foi atingida por uma pedra e pelo menos um veículo estacionado nas proximidades da Arena também foi depredado.

Ausência da polícia
Ontem à noite, chamou atenção a ausência de viaturas da PM e outros veículos da PRF acompanhando a manifestação. Segundo o comandante da PMRN, coronel Francisco Araújo, os policiais militares não podiam agir naquela área sem uma autorização prévia. “Aquela é uma região sob responsabilidade dos órgãos federais. É a PRF a responsável pelo local”, explicou.

Um dos policiais da PRF que estava no local disse à reportagem que desconhecia o motivo de apenas dois policiais e uma viatura estarem presentes. “Era para o batalhão de choque da PRF estar aqui. Não sei por que não veio. É bom perguntar ao meu chefe”, disse o policial fazendo referência ao superintendente regional do órgão, inspetor Rosemberg Alves.

Coronel Araújo informou ainda que a PRF e administração da Arena das Dunas pediram ajuda à PM. “Enviamos o reforço que foi solicitado. O protesto acabou assim que os homens do GTOR e BP Choque chegaram”, explicou.

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