5/3/2014, Moon  of Alabama
  http://www.moonofalabama.org/2014/03/the-eu-us-tug-over-ukraine.html#more 
  Ontem, pus em dúvida a confiabilidade  de um 'vazamento' feito pelo governo Obama para o New York Times. Escrevi que:[1]
  "Enquanto Merkel e outros políticos da União Europeia parecem querer acalmar a  situação, a Casa Branca está sob pressão política doméstica para fazer mais de  "alguma coisa". Por isso, provavelmente, o New York Times publicou hoje, como se fosse um 'vazamento':[2]
  A chanceler Angela Merkel da Alemanha disse por telefone ao presidente Obama no  domingo que, depois de falar com Putin, já duvida que ele mantenha contato com  a realidade – informaram fontes que receberam briefing do telefonema. "Parece estar noutro planeta" – disse a  chanceler alemã.
  Nada disso faz sentido. Não soa como comentário de Merkel e, pior, soa  absolutamente estranho, como comentário dela. Duvido que ela tenha dito o que  "fontes que receberam briefing do  telefonema" disseram ao NYT que ela  teria dito. Parece mais uma tentativa para desacreditar Merkel [aos olhos dos  russos] e dificultar ainda mais, para ela, encontrar alguma solução em acordo  com os russos e fora do controle dos EUA."
  Imediatamente, o governo alemão, através do conservador Die Welt, que apoia Merkel, desautorizou o NYT, negando a veracidade da citação  publicada. Die Welt escreveu [traduzido al./ing./port]:[3]
  "A chanceler não está contente com o relato publicado no New York Times.  Em nenhum momento e de nenhum modo Merkel disse ou teve intenção de dizer  que Putin estaria agindo de forma irracional. Na verdade, ela disse a Obama que  Putin tem perspectiva diferente [da de Obama] sobre a Crimeia."
  Não, não, não sou apoiador nem defensor de Merkel. Mas, sim, há disputa, tanto  entre EUA e União Europeia, como entre 'leste' e 'oeste', pela Ucrânia. 
  
  Sim, a União Europeia ferrou a própria estratégia para a Ucrânia, ao dar um  ultimato a Yanukovich para que assinasse o acordo de associação à EU e, quando  o ultimato foi rejeitado, a União Europeia agiu para instigar os tumultos em Kiev.  
  
  Mas o que os EUA estão fazendo é pior. 
  
  Os EUA obraram para sabotar o acerto de 21/2, que três ministros da União Europeia  conseguiram negociar entre Yanukovich e sua oposição, e, na sequência,  ordenaram um assalto de milícias fascistas armadas[4] contra o Parlamento  ucraniano, para impor ali, ilegalmente 'eleito'[5] um novo 'presidente' da  Ucrânia. Agora, há seis membros do partido fascista, de seguidores de Bandera,  o Partido Svoboda, no governo ilegítimo da Ucrânia. 
  
  Alguns políticos norte-americanos parecem[6] querer guerra com a Rússia.[7] 
    
  Mas os europeus têm interesses muito diferentes.
  
  Todos os comentários favoráveis a Merkel, que aparecem publicados na sequência  da matéria sobre ela em Die Welt apoiam  a posição dos russos nesse conflito e rejeitam o governo dos fascistas na  Ucrânia. E esse é jornal quase sempre conservador e muito pró-EUA. O  público alemão, apesar da campanha de propaganda anti-Rússia, e como já se lê  publicado no mais prestigioso veículo da imprensa-empresa alemã, absolutamente  não está do lado dos EUA e de seus intervencionistas da OTAN.
  
  Há uma longa 'tradição' de usar grupos fascistas nacionalistas contra a Rússia.  A Rússia perdeu mais de 20 milhões de vidas na luta contra o fascismo e, para  os russos, ver fascistas no governo de Kiev é ataque inadmissivelmente violento  contra sua própria identidade nacional. Os russos conhecem a própria história e  com certeza sabem quem está por trás daqueles fascistas de Kiev. ISSO,  provavelmente, foi o que Merkel disse a Obama, quando falou da perspectiva de  Putin.
  
  O partido Svoboda e o Setor Direita na Ucrânia veem-se como continuação da  tradição de Stepan Bandera, galego, ultra-nacionalista, terrorista brutal,  fascista e, depois, agente que trabalhou para vários serviços secretos  'ocidentais'. Livro muito revelador, arquivado nos Arquivos Nacionais dos EUA  sobre "Sombras de Hitler – criminosos de guerra nazistas, inteligência dos EUA  e a Guerra Fria" [orig. Hitler's Shadows  - Nazi War Criminals, U.S. Intelligence and the Cold War (pdf)][8] inclui um capítulo  exclusivamente dedicado a "Colaboradores: inteligência aliada e a OUN, Organização dos Nacionalistas  Ucranianos". Copio aqui alguns excertos:
  As operações britânicas através de Bandera expandiram-se. Um resumo do MI6, do  início de 1954, registrava que "o aspecto operacional dessa colaboração [entre  os britânicos e Bandera] desenvolvia-se   satisfatoriamente. Gradualmente se obteve completo controle sobre  operações de infiltração e, apesar de o dividendo da inteligência ser baixo,  foi considerado suficiente para que valesse a pena prosseguir (...)" 
  
  ...
  
  Bandera era, segundo os que tinham contato com ele, "profissional da  clandestinidade, com antecedentes de terrorista e noções implacáveis sobre as  regras do jogo (...). Uma espécie de bandido, se preferirem, de patriotismo  ardente e incendiário, o qual oferecia contexto ético e justificativa para seu  banditismo. Nem melhor nem pior que outros desse gênero.
  
  ...
  
  Em abril de 1959, Bandera outra vez pediu apoio da inteligência da Alemanha  Ocidental e, dessa vez, Gehlen estava interessado. A CIA observou que "É  visível que Bandera está procurando apoio para operações ilegais dentro da  Ucrânia." Os alemães ocidentais concordaram com apoiar pelo menos uma missão  daquele tipo, baseados no "fato de que Bandera e seu grupo já não eram os  degoladores que haviam sido" e porque Bandera "ofereceu provas de que seus  contatos com agentes internos." Uma equipe treinada e paga pelos alemães  ocidentais cruzara, saídos da Tchecoslováquia, no final de julho; e os alemães  prometeram apoio a Bandera para futuras operações, se aquela primeira fosse pelo  menos "moderadamente satisfatória".
  
  ...
  
  Em junho de 1985, o General Accounting  Office mencionou o nome de Lebed em relatório público sobre nazistas e  colaboradores que se instalaram nos EUA com a ajuda de agências de inteligência  dos EUA. O Gabinete de Investigações Especiais [orig. Office of Special Investigations (OSI)] do Departamento de Justiça  começou, naquele ano, a investigar Lebed that year. A CIA temia que  investigações públicas sobre Lebed pudessem comprometer a operação QRPLUMB e  que o fracasso na proteção de Lebed desencadearia a ira da comunidade de  emigrados ucranianos. Então, a CIA, para encobrir Lebed, negou qualquer conexão  entre ele e os nazistas e o apresentou como combatente da liberdade da Ucrânia.  A verdade, é claro, era mais complicada. Ainda no final de 1991, a CIA tentou  dissuadir o OSI de aproximar-se dos  governos alemão, polonês e soviético, em busca de relatórios de guerra ou  relacionados à guerra, que tivessem a ver com a Organização dos Nacionalistas  Ucranianos (OUN). O OSI acabou por abandonar o caso, incapaz  de encontrar documentos definitivos sobre Lebed. 
  
  Mykola Lebed, comandante de Bandera na Ucrânia durante a guerra morreu em 1998.  Está enterrado em New Jersey, e seus papéis estão arquivados no Instituto  Ucraniano de Pesquisa, na Universidade de Harvard."
  Há pouca dúvida de que os serviços secretos dos EUA e alguns políticos  neoconservadores norte-americanos estão ainda mexendo as cordas de movimentos  fascistas na Ucrânia.[9] Quem, senão eles, teria  treinado aqueles fascistas, em países vizinhos (como diz Putin)? Agora, a  russofobia desses mesmos personagens está ameaçando a paz na Europa. **** 
[2] http://www.nytimes.com/2014/03/03/world/europe/pressure-rising-as-obama-works-to-rein-in-russia.html?smid=tw-share&_r=0
[3] http://www.welt.de/politik/deutschland/article125385606/Merkels-Drahtseilakt-zwischen-Putin-und-Obama.html
[5] http://www.thedailybeast.com/articles/2014/03/02/how-ukraine-s-parliament-brought-down-yanukovych.html
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