Único albergue que atende dois mil moradores de rua em Natal pode fechar dia 15 de agosto

Há quase duas semanas estive na Igreja Betesda em Natal participando da formatura de uma turma do curso de mecânica de motos. Mais que um curso comum, o projeto faz parte do “Amigos da Rua”, tocado há 11 anos por aquela comunidade religiosa. O programa atende pessoas em situação de rua e já ajudou muita gente nessa mais de uma década.

Ali, fiz uma promessa a José Vanilson Torres, coordenador do Movimento Nacional de População de Rua no Rio Grande do Norte: relatar a difícil situação enfrentada em Natal, neste momento, no que se refere às políticas públicas referentes à área.

Minha dívida só aumentou em resultado do reinicio das aulas na UFC e de uma série de compromissos que se avolumaram nas últimas duas semanas - inclusive uma viagem à Lima, no Peru, onde estou hoje participando do Encontro da ALAIC.

Vanilson ajudou a organizar o movimento em Natal e o coordena desde outubro de 2012.

O atendimento à população em situação de rua em Natal está caótico. “Temos uma política para a população de rua instituída em 2009 pelo governo federal mas Natal não tem Centro POP [Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua] há dois anos e só possui um albergue municipal com capacidade de atender 55 pessoas”, explica Torres. Segundo ele, o preconizado é que tivéssemos, no mínimo, um em cada zona da cidade. “O albergue municipal hoje funciona de forma precária, com profissionais insuficientes, todos demitidos cumprindo aviso prévio”, complementa.

O Centro POP é uma unidade de referência das políticas de proteção social públicas, voltado especificamente, para o atendimento especializado à população em situação de rua.

Em Natal, a crise do seu único albergue passa pela dissolução da ONG Ativa, mergulhada em esquemas de corrupção e que sofreu intervenção judicial. Os profissionais que atuam no albergue eram terceirizados junto à Organização e a prefeitura de Natal não realizou processo seletivo para substitui-los, mesmo cientes de que no dia 15 de agosto todos deixarão suas funções. E Natal, com uma população em situação de rua na casa das duas mil pessoas e sem nenhum Centro POP, deixará de ter seu único albergue público.

A quantidade de pessoas em situação de rua em Natal é objeto de contradição, aliás, entre o poder público e o movimento social. Segundo a prefeitura, são apenas 600 pessoas vivendo nas ruas de Natal. O MNPR acredita que são no mínimo duas mil pessoas.

“Faz pelo menos quatro meses que a prefeitura deve a realização do processo seletivo para o albergue, desde que a Câmara Municipal aprovou”, explica Torres.

Na semana passada, representantes do MNPR estiveram reunidos com o promotor Oscar Ramos, da Defesa da Cidadania, na busca de soluções para a questão. O promotor comprometeu-se em buscar na Secretaria Municipal de Ação Social mecanismo para a solução dos problemas imediatos quanto ao Albergue e quanto à política pública sobre a população em situação de rua na cidade. “Quem vai pagar é a população em situação de rua que vai ficar sem seu pernoite se a questão não for solucionada”, lamenta o coordenador.

São duas mil pessoas nas ruas de Natal e apenas um albergue disponível com capacidade para 55 pessoas. Não é difícil mensurar o tamanho do problema. “Deveríamos ter não só outros albergues, mas casas de passagem, repúblicas”, diz Torres. “A situação é caótica, pois poucas pessoas têm acesso ao serviço e, agora, as poucas que têm poderão ficar sem por incompetência da prefeitura”, complementa.

Uma das grandes dificuldades é a questão de saúde.  Morador de rua tem tuberculose, sai do hospital e, por falta de estrutura de apoio, volta para a rua para fazer sua recuperação. Isso é desumano.  "A Semtas não está ligando nem para seus funcionários, imagine para a população de rua", conclui Vanilson Torres.



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