Jo Fagner: O que vi e vivi com Dilma Rousseff

Por Jo Fagner

Nasci sob o signo da opressão. Sou nordestino, LGBT, de família muito pobre em uma cidade pequena no interior do RN. Minha avó criou sozinha seus nove filhos, e só vi a figura do meu pai uma vez na vida. Minha mãe sempre trabalhou em casa de família, e na casa de vovó ter a comida no prato era uma luta diária. Sobrevivemos.

Aprendi desde cedo a valorizar os estudos. Sempre fui incentivado por todos a me dedicar na escola, se eu quisesse ser alguém na vida. Lembro, naquela época, que só tinha acesso ao ensino superior os filhos de donos de supermercado, de médicos, de bancários, enfim, gente que tinha dinheiro pra investir em cursinho e colégio particular. Eu não.

Quando criança, eu caminhei em passeatas e sempre acompanhei campanhas eleitorais. Vi esperanças em um tal de Plano Real, mas mesmo assim lembro que TV em cores era item em casa de rico, comprada através de consórcio. Geladeira, então, nem se fala. Mas eu sabia que estudar era o caminho, um dia minha estrela iria brilhar. E brilhou.

Com muito esforço, passei em quinta colocação no meu terceiro vestibular para a universidade pública. Não entrei por cotas, mas nunca concordei com a injustiça de concorrer com quem, nitidamente, tinha muito mais oportunidade de preencher aquelas vagas. Os exames de vestibular sempre estiveram ao nível dos cursinhos e escolas particulares, que se especializavam nessas provas.

Graduei-me pela UFRN em Comunicação Social, mas sabia que não podia parar por ali. Fiz prova para mestrado, em uma nova área: Antropologia Social, para que eu pudesse ampliar meus conhecimentos e ter novas oportunidades. Aprovado. Fui titulado mestre, em 2012, e de nada valeria se não tivesse uma estrutura de qualidade, com subsídios do governo federal, através de bolsa de estudos. Sem isso, eu definitivamente não teria condições de me dedicar à pesquisa. Nunca estive interessado em fabricar títulos, mas em construir conhecimentos. Foi assim que minha família me educou.

Confesso que, bem antes, tive medo do governo do PT. Mas aprendi a investigar além do que noticiam as capas e manchetes tendenciosas na grande mídia. São empresas que agem de acordo com interesses particulares, e não a favor da coletividade e do interesse público. Vejo que todo o medo que eu tinha era causado por essa mesma imprensa, e não pelo partido em si. Aliás, me orgulho da nossa presidenta Dilma.

E hoje, enquanto caminho nos meus primeiros passos de docência no ensino superior, me emociono quando vejo, na sala em que leciono, filhos de pedreiros e domésticas, garçons e outras categorias menos contempladas, que antes sequer sonhavam em frequentar salas de aula na universidade pública. Não, Dilma não nos deu esmola alguma. Ela criou condições para que tenhamos as mesmas oportunidades que os patrões. O nome disso é justiça social.

Como LGBT, vivenciei momentos de intenso desgosto e falta de esperança nesse país. Vi amigos e desconhecidos violentados e assassinados exclusivamente pela sua condição sexual, dia após dia. E hoje vejo, lamentavelmente, senhores da homofobia, líderes do ódio contra a diversidade, tendo a audácia de subir no palanque adversário para defender um projeto de respeito a um movimento que nunca hesitaram em conhecer, e jamais contribuíram para o combate efetivo das desigualdades. Pelo contrário, suas mensagens autorizam e legitimam o preconceito e a criminalidade contra essa camada da população.

Sim, eu vejo novas esperanças no governo de Dilma para a população LGBT. Atuei, por duas edições, em um curso de aperfeiçoamento profissional em Gênero e Diversidade na Escola (GDE) para professores da rede pública de ensino, no âmbito do Ministério da Educação. Reconheço que esse é o único caminho: formação de conhecimento. As conquistas ainda precisam avançar muito, mas todo ser humano vem de um embrião.

Na docência, me dedico a construir diálogos e articulações entre futuros profissionais para as questões de gênero e de sexualidade. Criei espaços na universidade para combater o machismo, a homofobia e toda fonte de discriminação contra mulheres, LGBTs e suas intersecções de classe e etnia. Tenho orgulho dessa atuação.

Acredito, também, no compromisso de Dilma com a criminalização da homofobia. Vi o SUS adotar políticas de reconhecimento social para a população trans*, vi a criação de um serviço para denúncias, presenciei o reconhecimento dos casais homoafetivos pelo serviço público federal, e afirmo: HOJE temos abertura histórica e política para avançar muito mais. É nisso que eu decidi acreditar.

Dia 26, não tenho dúvidas, renovarei meu voto confirmado no primeiro turno, bem como aquele nas eleições de 2010: quero Dilma para presidenta.

— Jo Fagner, professor e pesquisador universitário.
Natal, RN, 23 de outubro de 2014