Os erros e acertos das pesquisas eleitorais em 2014

Acabou o primeiro turno das eleições. No Rio Grande do Norte e no Ceará, estados nos quais me divido, e na disputa presidencial a eleição vai para o segundo turno.

Esta eleição desmoralizou pesquisas e institutos o Brasil afora. Na Bahia, por exemplo, como em 2006, todas as pesquisas apontaram vitória de Paulo Souto (DEM) e Gedel Vieira Lima (PMDB). Em 2006 foi assim com o mesmo Paulo Souto contra Jaques Wagner (PT). Naquele ano, até a véspera da eleição as pesquisas apontavam vitória de Souto no primeiro turno. Apenas a boca de urna apontou empate. No fim, Wagner ganhou a eleição no primeiro turno. O mesmo processo ocorreu com Rui Costa (PT) neste ano, com a diferença de que ele e Paulo Souto apareceram empatados ontem - na mesma pesquisa Otto Alencar (PSD) superou Gedel pela primeira vez. Hoje, na boca de urna, Rui, "surpreendentemente", apareceu com 10 pontos de vantagem sobre Paulo Souto. O petista tinha 49% e o democrata 39%. No fim, Rui foi eleito em primeiro turno com 54,53% dos votos - bem fora da margem de erro da pesquisa. Aliás, o Ibope provou que seus erros não têm mais margem.

Algo pior, no entanto, aconteceu no Rio Grande do Sul. Ali, toda a campanha foi liderada pela senadora Ana Amélia Lemos (PP). Na reta final, ela sucumbiu e nas últimas pesquisas apareceu ultrapassada pelo governador Tarso Genro (PT) e pelo pemedebista José Ivo Sartori. A boca de urna apontou a liderança de Tarso no primeiro turno (35% a 27%). O governador terminou o primeiro turno com 32,57%, mas Sartori teve 13 pontos a mais que indicavam as pesquisas (40,40%).

O RN teve pesquisas o tempo todo muito díspares. Nenhum instituto, exceto o Seta, indicaram a possibilidade do segundo turno. Aliás, devo destacar o Seta - mesmo que isso possa parecer sem isenção por se tratar do instituto de um amigo, o sociólogo Daniel Menezes.
O instituto, no entanto, foi o primeiro a apontar: a realidade do segundo turno no RN, a virada de Fátima Bezerra (PT) na disputa do Senado, o empate técnico entre Henrique Alves (PMDB) e Robinson Faria (PSD) e o crescimento de Robério Paulino (PSOL).

O Seta só errou uma coisa. Henrique, na última pesquisa, apareceu com 46,10% (terminou com 47,34%, ou seja, compatível com a margem de erro). No entanto, sua última pesquisa apontava Robinson com 48,75% e Robério com 3,48%. Mais ou menos cinco/seis pontos de Robinson passaram para Robério (42,04% e 8,74%). Entretanto, o crescimento constante de Robério no final de campanha era perceptível (inclusive nas pesquisas). Os resultados para o Senado variaram na margem de erro.

O crescimento de Robério foi detectado pelo Índice De Olho no Discurso - falei sobre ele ontem - e foi responsável para que o pleito fosse ao segundo turno.

Por falar em Índice De Olho no Discurso, destacamos que ele chegou próximo dos resultados de Robinson Faria (PSD): o vice-governador apareceu na última edição do índice com 43,37% e terminou a apuração dos votos com 42,04%. Henrique Alves (PMDB) apareceu no último índice com 50,87%, mas havia caído praticamente dois pontos desde o começo da semana.  O fator de crescimento de Robério também se evidencia aqui: Henrique terminou com 47,34%, ou 3,54 pontos percentuais a menos.

É por isso que pretendo manter o Índice De Olho no Discurso no segundo turno - desta vez incluído os votos para a disputa da presidência.

P.S.: Fui chamado a atenção por Bruno Giovanni de que o Instituto Certus, de Mardone França, acertou a tendência de segundo turno na sua última pesquisa estadual, publicada em 23 de setembro.  Ali, Henrique Alves (PMDB) ainda alcançava 51,84% dos votos válidos (37,71% dos votos totais).  Foi isso que disse em entrevista o dono do instituto:
Mardone afirma que, pelas pesquisas, o segundo turno está na “iminência” de acontecer. Apesar disso, ele ressalta que, se a eleição fosse hoje, Henrique ainda seria eleito governador do Estado no primeiro turno. “Hoje, falando sobre se vai haver segundo turno, diria que, segundo as pesquisas, não. Mas está na iminência de acontecer. Porque a diferença para o segundo turno é de 2,6%. Se Robinson continuar esse crescimento, ele deverá atingir isso aí até o fim da eleição. Então é aguardar ainda os dias e as pesquisas que deverão sair”.
A onze dias da eleição, a Certus trouxe um quadro de 7% de vantagem de Henrique sobre Robinson, queda de mais de 3% na diferença, que chegou a ser de quase 10% vinte dias atrás. Contabilizando os números da Certus, o professor afirma que as chances de a eleição no RN ir para o segundo turno são de cerca de 60%. “Eu diria que a partir de hoje, e olhando a tendência para trás, e acreditando que essa tendência possa continuar, eu diria assim com um prognóstico contabilístico em torno de 60% favorável a acontecer (segundo turno) e 40% não”.

Na mesma semana, no dia 21 de setembro, a pesquisa No Minuto/Seta alcançou resultado semelhante: Henrique e Robinson em empate técnico, com o pemedebista à frente (34 % a 31,2% em votos totais, 49,56% a 45,48%) - resultado também semelhante aos números finais da eleição.