Assessoria de Dilma emudeceu o Muda Mais. Agora, corre atrás…

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Por Luiz Carlos Azenha
Quando o site Muda Mais foi emudecido, depois da campanha eleitoral, surgiram protestos. Houve gente que considerou um erro. O fato é que o sítio muito contribuiu para a eleição de Dilma. Trazia textos, comentários, vídeos e dicas que foram amplamente compartilhados pelos eleitores da candidata petista. Os memes do Muda Mais viajaram longe nas redes.
Talvez tenha sido uma questão de custo. Talvez, de avaliação política. De qualquer forma, seria mesmo difícil explicar a escolha de Kátia Abreu aos jovens eleitores da candidata. Pegaria mal ficar insistindo que os cortes que prejudicam direitos dos trabalhadores foram adotados apenas para combater fraudes, uma ideia indecorosa que nem a CUT — sempre uma aliada fiel, mas crítica do governo — engoliu.
Agora, segundo o Estadão, a presidente decidiu turbinar sua presença na mídia, como forma de combater a impopularidade.
O Muda Mais cairia como uma luva. Tinha a leveza que combina com a garotada do Facebook e do what’s app. Ambos representam o futuro da comunicação instantânea.
Já a “mídia técnica” valorizada pela Secretaria de Comunicação da Presidência cheira à naftalina do Jornal Nacional. Ela considera, por exemplo, que um jornal impresso é lido por um determinado número de pessoas e que as pessoas lêem o conteúdo dos jornais, quando muitas vão direto às páginas de Esportes, ou apenas folheiam, ou não passam das manchetes.
Sempre escrevi: modéstia à parte, um texto publicado no Viomundo e compartilhado por duas, três mil pessoas no Facebook tem mais repercussão que qualquer editorial da grande mídia ou qualquer coluna de opinião de um jornalão que não tenha o mesmo número de compartilhamentos. Um texto publicado por múltiplos endereços na blogosfera é dez vezes mais disseminado que qualquer texto da Veja ou de O Globo.
No entanto, os senhores que ainda lêem jornais, que ocupam cargos públicos e que cuidam das verbas publicitárias demonstram uma ligação umbilical com a palavra impressa que é, literalmente, coisa do século passado. Os últimos gastam milhões de reais dos outros para demonstrar prestígio, exibir poder e paparicar amigos quando poderiam ter o mesmo retorno colocando muito menos em investimento focado nas redes sociais. Isso vale tanto para dinheiro público quanto privado.
Os blogueiros se sentem impedidos de argumentar neste sentido para não parecerem cabotinos ou de olho em dinheiro público. Como o Viomundo não aceita publicidade oficial, sente-se à vontade. A blogosfera é mais que um meio de comunicação. Ela cresceu apesar da hostilidade da mídia corporativa, numa relação de cumplicidade com seus leitores e comentaristas. Essa relação tem um valor não mensurável. Os leitores compartilham conteúdo publicado aqui como se sentissem o dever de fazê-lo chegar ao maior número possível de amigos e conhecidos.
Apesar de ser um site voltado a uma campanha política, o Muda Mais tinha conseguido reproduzir esta “atmosfera”. Cumplicidade não tem preço, nem existe na tabela da “mídia técnica”. Agora, Dilma vai ter de tentar a sorte com a Cantanhêde.