Por que vou às ruas no dia 20?



Ruas e redes se disputam.
É uma disputa de projeto, da opinião pública. Do contexto e do cenário.
Eu tenho lado.
Fui às ruas na campanha do ano passado entusiasticamente defender a reeleição, vitoriosa, de Dilma Rousseff.  Que se elegeu com uma pauta de esquerda, empurrada por movimentos sociais, partidos, militância à esquerda.
Já disse antes: no dia 27 de outubro Dilma tinha de ter continuado seu abraço à esquerda.
Dissemos, por exemplo, ao ministro Miguel Rossetto semanas atrás: a presidenta falou em fim de autos de resistência e criminalização da homofobia no marcante comício de Itaquera, São Paulo.  Depois, não mais.
Tínhamos de ter ficado nas ruas disputando isso. Disputando a pauta dos direitos humanos, contra o ataque aos direitos trabalhistas, contra um ajuste que só atinge trabalhadores e pôs em risco um projeto político reeleito em 2014. Abandonado, aliás, no dia seguinte.
Saímos das ruas. Elas foram tomadas pelo que de pior a direita brasileira poderia produzir. Não falo do indiferenciado grito contra a corrupção dado ao lado de gente como o senador José Agripino (DEM), investigado pelo recebimento de R$ 1 milhão na Operação Sinal Fechado.  Falo da pauta que criminaliza a política, alimenta o ódio contra a esquerda, representa a emergência de ideias proto-fascistas. Saímos das ruas e as entregamos a eles.
É por isso que vou às ruas quinta-feira, dia 20.
É mais que a defesa da democracia ou do governo. É a defesa do direito dos trabalhadores, dos avanços sociais, ameaçados de um lado ou de outro. Vou ao lado do meu partido, o PT, mas vou ao lado de movimentos sociais e até de opositores do PSOL.  Porque não é Dilma quem está em questão. Somos nós, o povo.
Não disputamos as ruas para sabermos quem coloca mais gente ali. Vamos às ruas para dizer que há uma pauta a qual o povo não pode esquecer nem o governo negligenciar.
Por isso, comentários como esse de Daniel Menezes são profundamente inverídicos e emergem como estratégia de construção de uma narrativa. Diante de um ato de direita em Natal que reuniu, dizem, cerca de mil pessoas, é preciso antecipar uma narrativa que já construa antes do evento uma história de fracasso, de derrota.  Como se fosse a intenção ter mais gente que "eles" - não é.
Política e movimentos sociais não são para amadores.
Menezes, na verdade, deu o mote para desqualificar o movimento. Os argumentos para desconstruir sua narrativa foram anunciados atacando a pauta da democracia, a força de movimentos sociais organizados, os direitos dos trabalhadores do campo e da cidade.
Daniel joga para a sua plateia, o público que disputa com o seu Potiguar: um público de direita, acostumado a ler Thaisa Galvão e Bruno Giovanni.  Sua mensagem de desqualificar um ato que diz menos respeito ao governo Dilma e mais à pauta de lutas dos movimentos sociais, dos trabalhadores e das esquerdas atinge em cheio tal objetivo.
Movimentos sociais se retraíram nos últimos tempos diante da ofensiva direitista. Mas tem impulso em novas lideranças como Guilherme Boulos, do MTST, que deu a tônica do que representa o movimento de depois de amanhã em encontro recente com a presidenta: nem o Ajuste Fiscal nem a Agenda Renan representam aquilo que o país e a sociedade brasileira mais precisam. É isso que se disputará nas ruas.
Boulos e o MTST colocaram 20 mil pessoas no centro de São Paulo semana passada em defesa da moradia digna e da democracia. Semana passada, cem mil Margaridas coloriram Brasília.  Ruas e redes se disputam.
Conheço Daniel Menezes há alguns anos. Na primeira vez em que nos encontramos, entendemos várias coisas que nos uniam e algumas que nos distinguiam. Uma das coisas que tínhamos em comum eram os constantes ataques que sofríamos da parte de um jornalista potiguar em sua coluna de jornal e seu blog na Internet. Atualmente, processo o jornalista.  Daniel havia trabalhado com ele em campanhas eleitorais, conduzido pela relação de amizade que o jornalista tinha com seu pai.  Depois que romperam as relações profissionais e de amizade, Daniel, juntamente comigo, Miguel Nicolelis e Ailton Medeiros nos tornamos alvos preferenciais do tal jornalista.
Depois da campanha do ano passado, divergências profissionais o afastaram gradativamente do PT - seu afastamento foi se manifestando em textos cada vez mais críticos contra o partido e seus dirigentes no Rio Grande do Norte. Daniel costuma afirmar que os petistas fazem análises apaixonadas, pouco isentas, a partir do que chama de atitude de superioridade moral da esquerda.
Aliás, já na primeira conversa ele disse que não se considerava alguém nitidamente de esquerda, mas liberal.
Atualmente, O Potiguar é um dos sites mais lidos do estado. Ele disputa hegemonia, repetindo algumas fórmulas de sucesso utilizadas por Bruno Giovanni e Thaisa Galvão, os dois blogueiros mais influentes do Rio Grande do Norte.  Disputam o mesmo público que, entre outros elementos, tem forte característica antipetista.
Questionei Daniel Menezes sobre seu post.  Menezes disse que "esses atos [do dia 20] serão minguados, bem menores, e, muito provavelmente, logo em seguida, à noite, algumas matérias pipocarão nas redes sociais e nos jornais televisivos dando conta de que alguns militantes foram remunerados para estarem ali presentes.  (...) O pessoal não compreendeu que 'as ruas foram perdidas'".
A narrativa para significar o ato, independente do que ocorra, já foi dada por Menezes.
Se as ruas foram perdidas (não acredito que o foram) é porque os movimentos sociais e populares, os trabalhadores e a esquerda recuaram após a eleição ano passado. Saímos da disputa e aí tudo foi de mal a pior: a agenda Cunha foi imposta contra o país, o ajuste do Levy que só atinge o trabalhadores e, agora, a Agenda Brasil de Renan.
Urge retornar às ruas.  Não se trata de disputar quem coloca mais gente nelas, mas de descortinar que outras questões precisam ser propostas: não é democrático derrubar uma presidenta recém-eleita contra quem não pesam acusações nem evidências; os direitos dos trabalhadores precisam ser preservados; as minorias defendidas; os avanços sociais garantidos. Mais importante: é preciso dizer à direita e ao governo que a pauta que venceu a eleição precisa ser respeitada e implementada.


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