Por Pascual Serrano
Na Carta Maior
Ao longo desses três dias, especialistas em comunicação, jornalistas e blogueiros de 23 países, de três continentes, acompanhados de meio milhar de participantes inscritos ao longo das últimas semanas, debateram o papel da blogosfera. Entre os participantes nas primeiras mesas se encontrava o diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol, Ignacio Ramonet; porta vozes de importantes projetos informativos de vanguarda como o informativo televisivo estadunidense Democracy Now ou Wikileaks, Andrés Thomas Conteri e Kristinn Hrafnsson respectivamente; o acadêmico argentino Martín Becerra, o jornalista do periódico também argentino Página/12, Martin Granovsky, o editor da agencia alternativa equatoriana Alai, Osvaldo León, e quem assina esta nota, entre outros.
A discussão girou em torno do papel democratizador da internet ou a capacidade das redes sociais como catalisadores de mobilizações cidadãs em países árabes ou europeus. O debate sobre as redes sociais como elementos alienantes ou libertadores mostrou a riqueza e pluralidade da discussão.
Outra mesa de grande interesse foi protagonizada por blogueiros do Egito, Arábia Saudita e Paquistão, acompanhados pelo jornalista do Asia Times Pepe Escobar. Todos eles mostraram as dificuldades e as agressões que enfrentam por parte de seus governos. Reunir em uma mesa todos estes testemunhos foi sem dúvida uma grande experiência para o público.
Nos debates seguintes se destacou o blogueiro cubano Iroel Sánchez que desmascarou a mensagem dominante na grande mídia que adjudica a blogosfera cubana à oposição e mostrou que muitos cubanos apostaram por utilizar a rede para mostrar aos leitores a verdade de Cuba, afastada dos estereotipados ataques que sofre a revolução. Como era lógico, uma das mesas se reservou para repassar o panorama de experiências no Brasil, na que participaram representantes de importantes blogs e mídias digitais deste país.
Por último, na linha de compartilhar experiências do continente e analisar o desenvolvimento da situação nos diferentes países, ministros e legisladores das políticas comunicacionais da Venezuela, Peru, Argentina e Brasil discutiram sobre a luta pela liberdade de expressão e pela democratização da comunicação.
Finalmente foi aprovada, a título de conclusão, a “Carta de Foz do Iguaçu” que desde seu começo declara que a liberdade de expressão “não deve ser confundida com a liberdade propagada pelos monopólios 'midiáticos' que castram a pluralidade informativa”. Além disso, reivindica “novos marcos regulatórios da comunicação, que incentivem os meios públicos e comunitários; estímulo à diversidade e aos veículos alternativos; limite aos monopólios, à propriedade cruzada e ao uso indevido de concessões públicas; e garantia de acesso à sociedade da comunicação democrática e plural”.
Igualmente reivindicam “a luta contra qualquer tentativa de cerceamento e censura na Internet. Pela neutralidade da Rede e pelo incentivo aos tele-centros e outros mecanismos de inclusão digital. Pelo desenvolvimento independente de tecnologias da informação e o incentivo ao software livre”. Também denunciam “qualquer restrição no acesso à Internet” com especial menção àquela “imposta pelos Estados Unidos em seu processo de bloqueio a Cuba”.
Na opinião dos participantes nesse encontro “a Internet é estratégica para o desenvolvimento econômico, para enfrentar os problemas sociais e para a democratização da informação. O Estado deve garantir a universalidade desse direito. A Internet não deve estar à mercê dos monopólios privados”.
Por último, anunciaram sua intenção de “reforçar o intercâmbio de experiências e fortalecer as novas mídias sociais, os participantes também aprovaram a realização de um II Encontro Mundial de Blogueiros, em novembro de 2012, na cidade de Foz do Iguaçu. Para isso foi constituída uma comissão internacional para afiançar ainda mais este movimento, preservando sua diversidade, e para organizar o próximo encontro”.
Sem dúvida, este 1º Encontro Mundial de Blogueiros serviu para mostrar que, diante das novas tecnologias de informação e do desenvolvimento da rede, grande parte dos profissionais da comunicação e da cidadania têm optado por enfocar a nova situação num processo da luta pela democratização e da participação cidadã na informação. Foz do Iguaçu, a cidade conhecida no mundo por acolher as maiores cataratas do mundo demonstrou, além da sua liderança em água, sua liderança na luta por uma rede e uma informação mais democrática.
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