#ForaMicarla: "Não vai entrar, só entra com a ordem do presidente", diz chefe da guarda legislativa

Os manifestantes do #ForaMicarla se reuniram no início da tarde desta segunda-feira em frente à Câmara Municipal de Natal.  A intenção era entrar para acompanhar os trabalhos da CEI dos Contratos e entregar um ofício à Casa.  Foram impedidos pela guarda legislativo.

Conseguimos gravações de trechos tensos da negociação entre as vereadoras Júlia Arruda (PSB), presidente da CEI, e Sargento Regina (PDT), com o capitão João Nogueira Neto.  O capitão diz que recebeu uma ordem superior, da presidência da Casa, para que impedisse a entrada dos manifestantes.  Questionado pelas vereadoras onde está o ofício ou documento com a ordem, o chefe da guarda não responde.

Marcos Dionísio e Paulo Eduardo Teixeira, presidente da OAB, estiveram na Casa para negociar uma saída para o novo impasse.

Júlia lembra ao capitão Nogueira que está acontecendo uma CEI na Câmara: "Aqui tem o acompanhamento de uma CEI.  Por que não a sociedade civil, o coletivo que se instalou aqui, pacificamente entregar um documento? Por que proibir?".

"Aqui é a casa do povo.  Não tem nenhum ofício [proibindo a entrada]", destaca Júlia.

Nogueira quer falar a sós com a vereadora, quando se irrita ao perceber que está sendo gravado.  "Eu quero falar com a senhora em particular - então eu me privo de falar com a senhora", disse o chefe da guarda. "Eu não tenho poder de tomar essa decisão.  Quem tem o poder são meus superiores [ou seja, o presidente Edivan Martins (PV)]", completou.

Em determinado momento, o capitão Nogueira se recusa a responder a perguntas de um dos manifestantes: "Você já me agrediu demais. Não pergunte não", disse.


Aúdio, parte 1


Quando Nogueira ameaça agredir um manifestante, é lembrado pela presidente da CEI que ele está zelando pela guarda legislativa e precisa ter uma postura diferenciada.


Capitão Nogueira ironiza uma das duas vereadoras - a gravação não deixa claro qual delas.  "Se você tem autoridade e poder de me expulsar daqui, de querer que eu saia daqui, de não gostar de mim", disse ele. 


Um dos manifestantes lembra que a ordem de Edivan Martins de impedir a entrada das pessoas "é ilegal".  "O que nos motiva a estar aqui é apenas que houve uma violação de direitos.  É direito do cidadão entrar nessa casa no horário do expediente trajando calça e se cadastrando.  Como o cidadão não teve esse acesso nós estamos aqui apenas para garantir que aqueles cidadãos e cidadãs que atenderam ao apelo da nobre presidente da CEI de vir acompanhar os trabalhos nessa casa, não se sintam humilhados de terem as portas fechadas em sua cara e tenham acesso a essa casa.  A gente só quer mostrar que nós temos direito de entrar aqui, entregar o documento e ir embora.  Eu não vou acampar aqui, a não ser que o senhor queira.  Porque se o senhor não abrir a porta eu não vou me levantar.  O senhor está cumprindo uma ordem que é ilegal.  Já que o presidente determinou uma ordem ilegal, nós estamos respondendo com uma crise.  Ele criou a crise agora ele vai ter que solucionar a crise", disse em sua fala.

Júlia pondera, em determinado trecho, que não "é interessante para casa ser manchete nos jornais com uma nova ocupação", ao que o chefe da guarda responde perguntando se a vereadora falou com "doutor Edivan".  "Eu não vou abrir [as portas da Câmara] porque a responsabilidade é minha", diz Nogueira.


Áudio, parte 2


"Teve uma ordem superior", lembra o capitão Nogueira, quando, mais calmo, cede à pressão e permite que os manifestantes entreguem o ofício.  "Se vocês permanecerem aí, amanhã mesmo eu vou entregar minha carta de demissão.  Vocês vão comprometer vários cidadãos...", disse.

Nogueira nega que tenha havido ameaças por parte de membros da guarda.

"Não houve ameaça de morte", diz.  Mas os manifestantes retrucam.  O capitão se recusa a apertar a mão de uma dos manifestantes.

Após reiterar que não permitirá a entrada de ninguém sem uma ordem de Edivan, passa a criticar dois dos manifestantes que atuam em gabinetes de vereadores da Casa.  "Eu não queria ser presidente da Câmara para ter um funcionário do nível de vocês [provavelmente ele queria ter um como Thalita Moema]".


Áudio, parte 3


A parte final, de poucos segundos, tem uma fala do chefe da guarda que acusa alguém de ameaçá-lo.  E se ouve, ao fundo, o canto dos manifestantes.


Áudio, parte 4

Mais uma vez, Edivan Martins (PV) põe em risco sua própria biografia com uma decisão arbitrária e ilegal - impedir o acesso de cidadãos à sede do legislativo municipal.  Atitude que tensionou o ambiente, gerou um conflito, que nem mesmo a mediação de duas vereadoras foi suficiente para impedir.

Ainda será necessário investigar as denúncias de ameaças sofridas pelos manifestantes.  Ao menos dois deles foram ameaçados de levarem tiros na cabeça por guardas legislativos.

Comentários