Discurso e linguagem: Quando uma ocupação é invadida

Não existe exemplo mais clichê acerca do fato linguístico de que o signo é uma arena de disputa ideológica.  Ainda assim, não deixa de se repetir.
Agora há pouco, André Trigueiro e Luís Fernando Silva Pinto travaram um bom diálogo comentando os movimentos de ocupação nos Estados Unidos, a partir das ações do #OccupyWallStreet, mas falando também das violências que se repetem em Oakland, na Califórnia.  Trigueiro, de forma inesperada, afirmou que os movimentos globais lutam contra o sistema financeiro internacional - e não contra a crise econômica, conforme a versão vendida pelos jornais da Globo.
Silva Pinto lembrou o caso do veterano Scott Olsen, ferido com gravidade na cabeça por um projétil de bomba de gás.  O repórter destacou que o militar voltou do Iraque sem nenhum ferimento para ser atingido dessa maneira em um protesto em casa.
Bastaram alguns minutos para a ocupação ser invadida.  A matéria sobre a ocupação da reitoria da USP foi anunciada no mesmo bloco do jornal, para ser exibida no bloco seguinte.  Para a Globonews, a reitoria foi invadida por estudantes armados com paus e fazendo vandalismo.  Os invasores têm 24 horas para deixar o prédio.
Se a matéria sobre o occupy destacou as causas do movimento, sua perspectiva de futuro, etc., a matéria sobre a USP exibiu as imagens do circuito de tevê mostrando a entrada dos estudantes, as suas tentativas de quebrar as câmeras de segurança.  Estudantes sem futuro e sem causa.

Enquadramento para despertar interesse sobre os EUA, descrédito aos estudantes brasileiros.  E sem sequer levantar a hipótese de que o que acontece aqui e o que acontece lá pode ter alguma relação.

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