Operação Sinal Fechado: A dois dias das eleições, tucanos pagaram R$ 100 mil a George Olímpio

No aditamento à denúncia inicial da Operação Sinal Fechado, publicizado ontem pelo Ministério Público, há referências a supostas práticas criminosas envolvendo João Faustino e um de seus advogados, Alexandre de Moraes.  Alexandre foi o advogado que interpôs, e teve sucesso, no habeas corpus que libertou Faustino junto ao STJ.
Dessa vez, Alexandre de Moraes aparece numa negociação suspeita, segundo o Ministério Público.  O dinheiro vivo circulou nas contas de João Faustino e de Alexandre de Moraes, na forma de depósitos de envelopes em caixas eletrônicos.
Dinheiro vivo é indício de transação irregular.  "O depósito de razoável valor em espécie, ainda mais de forma fracionada em diversos depósitos no mesmo dia, com diferença de minutos entre estes, revela evidentes indícios de que estes recursos tinham origem ilícita", afirma o Ministério Público.
Como foi feito o pagamento a Faustino e Alexandre de Moraes?
Em 05 de outubro de 2010, uma terça-feira dois dias depois da eleição que derrotou Iberê, João Faustino depositou R$ 20 mil em valores fracionados de R$ 2.500,00 na conta da sociedade "Alexandre de Moraes Sociedade de Advogados".  Para que essa transferência?  Será que pagaria parte dos serviços de lobistas como Alcides Barbosa?  Se simplesmente estavam pagando serviços do escritório, por que o depósito em dinheiro vivo?
Curiosamente, três dias depois, em 08 de outubro, foram depositados R$ 31 mil reais em envelopes fracionados de R$ 3 mil (a maioria) na conta de João Faustino.   Isso combina com a informação que está nos autos de que João recebia R$ 10 mil do grupo em troca de seus serviços.  Aparentemente Faustino recebeu o valor em dinheiro vivo e, então, providenciou o depósito em sua conta.   Circularam, em poucos dias, R$ 51 mil em dinheiro vivo pelas mãos de João Faustino.
No período, João estava no exercício do mandato de senador devido à licença que Garibaldi Filho (PMDB) havia tirado a fim de se dedicar à campanha eleitoral. João foi senador entre 15 de julho e 11 de novembro do ano passado. Em sua despedida, João afirmou que tem tentado, "ao longo da minha carreira, seguir caminhos aplainados pela ética, pelo respeito aos adversários, pela harmonia nas relações políticas. Entendo que a ética constitui valor central das dinâmicas sociais, profissionais e políticas, valor que se torna cada vez mais presente nos fóruns democráticos".  Sabendo o que sabemos hoje, sua fala se reveste de comicidade.
Qual a possível origem do dinheiro?
Há uma movimentação interessante a ser observada nas contas de campanha do PSDB, partido de João Faustino.
Em 30 de setembro de 2010, a empresa paranaense CR Almeida depositou R$ 100 mil nas arcas do PSDB potiguar:

CR ALMEIDA S/A ENGENHARIA DE OBRAS33.059.908/0001-2030/09/1045000284656100.000,00Transferência eletrônicaComitê Financeiro ÚnicoPSDBRN

No dia seguinte, os R$ 100 mil foram dormir na conta de um velho conhecido da Operação Sinal Fechado:

GEORGE OLIMPIO ADVOGADOS11.085.983/0001-2201/10/10Serviços prestados por terceiros100.000,00Cheque- - / Comitê Financeiro Único - PSDB - RN


Isso mesmo: os tucanos pagaram R$ 100 mil a George Olímpio dois dias antes do primeiro turno das eleições. Na semana seguinte, R$ 51 mil em dinheiro vivo circula nas mãos de João Faustino.
Quem é a CR Almeida?  Talvez aqui possamos explicar o vínculo com Alexandre de Moraes.  O grupo CR Almeida é uma das empresas que compõe a Ecorodovias S.A..   É a própria empresa que se apresenta aqui:
O Grupo EcoRodovias foi o segundo colocado no leilão que concedia as rodovias estaduais Ayrton Senna e Carvalho Pinto à iniciativa privada, realizado em 2008. A primeira colocada foi homologada em janeiro de 2009, mas sem apresentar as garantias exigidas no edital de licitação, teve sua homologação cancelada pelo Poder Concedente e sendo confirmada a EcoRodovias como vencedora do leilão. Em 18 de junho de 2009,  iniciaram-se as operações da Concessionária Ecopistas, administrando a ligação entre a Região Metropolitana de São Paulo com o Vale do Paraíba, a região serrana de Campos do Jordão e as praias do Litoral Norte.

Em 20 de janeiro de 2010, decorrente de Reestruturação Societária, o controle direto da Ecopistas, concessionária responsável pela administração/manutenção das Rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto, anteriormente detido por nós, foi tranferido para a EcoRodovias Concessões e Serviços.

Em 22 de janeiro de 2010, alteramos nossa razão social de Primav EcoRodovias S.A. para EcoRodovias Infraestrutura e Logística S.A.

Em 26 de janeiro de 2010, decorrente de Reestruturação Societária, o controle direto da Ecosul, concessionária responsável pela administração/manutenção da Rodovia conhecida como Pólo Rodoviário de Pelotas, anteriormente detido por nós, foi transferido para a EcoRodovias Concessões e Serviços.
 
Ou seja: os R$ 100 mil que fizeram uma ponte nas contas do PSDB antes de entrarem nos cofres de George Olímpio e, supostamente, irem parar nas mãos de João Faustino, vieram de uma sócia do consórcio que administra algumas das principais rodovias do estado de São Paulo.  Será que os R$ 20 mil depositados na conta de Alexandre de Moraes eram sua comissão?


Alexandre era considerado um super-secretário da gestão de Gilberto Kassab enquanto esteve na gestão até meados do ano passado.  Moraes comandava duas secretarias municipais, Transportes e Serviços, e presidia a CET e a SPTrans e deixou o governo em 8 de junho de 2010.  Será coincidência que Moraes fosse o secretário em uma área de intercessão com as rodovias?
Mais importante que isso, no entanto, é que o processo sob suspeita de inspeção veicular em São Paulo passa pela gestão de Alexandre de Moraes - enquanto presidente da CET, implantou o sistema com a Controlar em São Paulo.

P.S.: Houve um erro de digitação no aditamento publicizado ontem: João Faustino teve o depósito de R$ 31 mil em sua conta em 08 de outubro de 2010 e não de 2011.

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