Victor Jara, Bruce Springsteen e o Medievalismo na Nau da Insensatez do Rio Grande do Norte

Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos

Parece que foi esta semana que Bruce Springsteen cantando em Santiago, fez uma tocante homenagem a Victor Jara no Chile, em castelhano, cantando em Voz e Violão, acompanhado pelo público, "Manifesto", registrando a passagem dos 40 anos da tragédia que foi o golpe contra Salvador Allende, também num 11 de setembro, só que em 1973.
Tragédia política para a América latina que teve sequência na morte física e cívica do poeta Pablo Neruda eque foi se aperfeiçoando sua perversidade no martírio imposto ao menestrel engajado Victor Jara no Estádio do Chile. Seu corpo mutilado, já chegou ao Estádio Nacional do Chile sem vida e sem forma, tantas foram às torturas que se lhe foram impostas, com o requinte de após ter as mãos mutiladas, seu algoz maior, que hoje se esconde nos EUA, ter posto sobre o que lhe restou das mãos, um violão, provocando-o a tocar e a cantar.
Springsteen, como já fizera na Argentina anos atrás, fez também uma homenagem semelhante aos familiares dos mortos e desaparecidos e também não permitiu a manipulação da data pelos plutocratas chilenos. Indicou torturas, assassinatos e desaparecimentos promovidos por Pinochet et caterva.
Enquanto o Chile vivia esse momento histórico e reparador, natalenses amarravam um portador de transtorno mental que quebrara a janela de um carro, num poste, em Lagoa Seca.
Amarraram-no como senhores de engenho faziam aos seus escravos. Outros varões, desesperados pelo medo, insegurança e alimentados pela covardia agrediam com chutes o jovem amarrado, humilhado e indefeso ao chão. Além de palavras e agressões verbais a nos mostrar que o processo civilizatório por aqui precisa ser inaugurado.
Discursos bestiais de programas televisivos, eivados de crimes continuados, exortam os imbecis de plantão a agirem como os justiceiros de Lagoa Seca, como uma resposta à polícia que só atua na defesa das vítimas bem aquinhoadas , amigas do casal Rosado que está a levar o RN para um estágio na idade medieval.
Mas ao que parece a crise de valores no RN demonstra que, a partir do comportamento de suas lideranças como Agripino, Garibaldi, Casal Rosados, Henrique Alves, Ricardo Motta ainda irá piorar. Até porque, a exceção do marido governador, os demais, como ratos de porão do navio, já abandonam a nau da insensatez que ajudaram a erguer.
Além de um Executivo que não funciona e é irresponsável, genocida, infanticida, desumano, obscurantista e ridículo, as demais instituições voltam-se para tentar criminalizar os movimentos sociais, também contaminados pela inércia e pelo espírito corporativo de reconstruir novos privilégios como auxílios para velhas moradias e paletós, como já lograram abocanhar a “legal” mas imoral e nutriente PAE que desmoraliza qualquer discurso ou parecer acerca do limite prudencial ou equilíbrio fiscal.
Na segunda-feira, pegarei o filme apresentado pela Intertv e o apresentarei em nome do Conselho Estadual de Direitos Humanos à Polícia Civil, à Corregedoria da SESED, à justiça e ao Ministério Público e espero que, não apenas os também desesperados, humilhados e ofendidos que agrediram ao mais humilhado, ofendido e martirizado portador de transtorno mental , sejam responsabilizados. Há toda uma linha de irresponsáveis pela falência do Estado de Direito no RN que precisam arcar com o ônus dos tempos medievais que estamos a viver ou como nos demonstrou o Chefe Seatle em sua célebre missiva, os tempos que estamos a sobreviver. Nós, sobreviventes que estamos a escapar no RIO GRANDE DE MORTE, sem sorte e sem NORTE e também sem sul, leste ou oeste.
Enquanto Bruce Springsteen homenageava a lenda dos artistas engajados latino-americanos, Victor Jara, Natal ante a falência múltipla das políticas públicas, se abraçava à barbárie mais uma vez, enquanto uma Comissão formada pela Assembleia Legislativa, OAB e Conselho de Direitos Humanos era desrespeitada também , passando o dia aguardando uma reunião aprazada e até agora, não cancelada, para equacionar a Greve da Polícia Civil.
Além de pudor, falta elegância, respeito à diversidade de gênero e mesmo educação aos ocupantes do Governo que só quer saber de arrotar manifestações explícitas de exercício do poder pelo poder.

Comentários